9 de outubro de 2007

A cartilha, adotada pelo MEC, para doutrinamento marxista dos alunos


Continuamos com mais alguns trechos (disparates) que comprovam como o livro — melhor: cartilha para doutrinamento marxista dos alunos — manipula a história, por exemplo, apresentando o marxismo como o bem e os Estados Unidos como representação do mal.

Livro didático e propaganda política
Por Ali Kamel
“O Globo”, 1-10-07
“O livro prossegue com pequenos tópicos sobre os principais acontecimentos mundiais, a Revolução Russa e seus antecedentes: grande pobreza no campo, extrema exploração dos operários. Vitoriosos os revolucionários, seus primeiros feitos são assim descritos: "Estradas de ferro e bancos foram nacionalizados, as terras foram divididas e distribuídas entre os camponeses e a produção nas indústrias passou a ser controlada pelos operários. As medidas revolucionárias do novo governo feriram os interesses da burguesia e das grandes empresas que atuavam no país." Segue-se um breve resumo da guerra civil — a burguesia e a aristocracia, apoiados pelos EUA e Grã-Bretanha, contra os revolucionários liderados por Lênin e Trotsky — e um pequeno verbete intitulado "A ditadura de Stalin". Nele, lê-se que a URSS foi governada de 1924 a 1953 por Stalin, como um ditador. "As liberdades individuais foram suprimidas e os adversários do regime, inclusive os líderes da revolução, acabaram presos ou assassinados pelo regime." Parece honesto, mas não é: omitir os detalhes da monstruosa ditadura de Stalin, que levou milhões à morte, é esconder dos alunos o mal que o socialismo real provocou. Especialmente porque os autores não se esqueceram de destacar o "bem" que Stalin proporcionou: "O Estado promoveu o desenvolvimento da indústria de base, como energia elétrica e metalurgia, investiu em educação e na qualificação de mão de obra e formou cooperativas agrícolas [...] para ampliar a produção no campo."
Bonito, não? No fim do capítulo, nas atividades propostas aos alunos, fica estabelecida a distinção entre capitalismo e socialismo: "Os anos 1920, nos EUA, caracterizaram-se por consolidar a sociedade de consumo. Numa cultura de consumo, grande parte do tempo e das energias humanas está voltado (sic) para a aquisição de bens materiais. Sob a orientação do seu professor, debatam os seguintes aspectos: a) dados que comprovam o caráter consumista da sociedade atual; b) os efeitos negativos da cultura do consumo para o indivíduo e a sociedade." [...]
E Mao? Este parece ser um fetiche dos autores de livros didáticos. O livro conta que Mao Tsé-tung derrotou o capitalismo na China e relata dois episódios, sem referência aos milhões de mortos que os dois eventos provocaram. "Em 1958, a fim de aumentar a produção, foram criadas cooperativas rurais e novas indústrias também. Essas iniciativas econômicas foram conhecidas como o 'Grande salto para a frente'. Preocupado com a influência de valores ocidentais na China, Mao iniciou a Revolução Cultural, uma campanha oficial marcada por intensa doutrinação e repressão." E mais não se diz.
* * *


Apenas para apontar duas graves omissões (voluntariamente “esquecidas” para poupar os crimes do regime comunista) na cartilha distribuída pelo MEC. Uma em relação à URSS (com Stalin) e outra em relação à China Vermelha (com Mão Tsé-tung) — ambas extraídas do já citado “Livro Negro do Comunismo”(*)

1 — O Stalin apresentado pela cartilha adotada pelo MEC é bem diferente do Stalin histórico. Este, para implantar a Reforma Agrária, decretou o extermínio de 60 mil camponeses e o exílio da grande maioria para campos de concentração. Em poucos dias, a meta de 60 mil assassinatos foi superada. Em menos de dois anos foram deportados 1.800.000 proprietários rurais e familiares. A viagem mortífera, em vagões de gado, durava várias semanas, sem alimento nem água. Os comboios descarregavam os cadáveres nas estações. Stalin submeteu pela fome aqueles que poderiam manifestar um mínimo de descontentamento. As reservas de alimentos foram confiscadas. Carentes de tudo, os camponeses abandonavam os filhos na cidade próxima. Só em Jarkov aproximadamente 8 mil crianças morreram de fome — sem contar as que morreram por outros motivos. Na fase final da Reforma Agrária, o salto foi 6 milhões de mortes.

2 — O livro do MEC louva o plano de Mao Tsé-tung com o chamado “Grande salto para a frente”. Vejamos o que diz o “Livro Negro do Comunismo” sobre tal plano:

Em 1959, Mao propôs o “Grande salto para a frente” — que consistiu em reagrupar os chineses em comunas populares — sob pretexto de um acelerado progresso. Foi proibido abandonar a comuna, as portas das casas foram queimadas nos altos fornos, e os utensílios familiares transformados em aço. Iniciaram-se construções delirantes. Os responsáveis comemoravam resultados fulgurantes e colheitas astronômicas. Mas logo começou a faltar o alimento básico. Barragens e canais viraram pesadelo para seus construtores escravos. A indústria parou. A fome mais mortífera da História da humanidade sacrificou então 43 milhões de vidas! Era proibido recolher as crianças órfãs ou abandonadas.

Eis algumas das verdades históricas que um livro que não fosse intelectualmente desonesto não poderia deixar de omitir.
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(*) Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné, Andrzej Paczkowski, Karel Bartosek, Jean-Louis Margolin, “O livro negro do comunismo. Crimes, terror e repressão”, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1999

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