14 de maio de 2009

No caso da menina de Alagoinha, a Igreja atuou como advogada, e não como tirana — como a mídia tentou apresentar

Após a “trégua em homenagem ao Dia das Mães”, retomamos nossa batalha em defesa dos valores familiares tão bombardeados pela “ditadura do relativismo”. Nosso desejo é colocar ao alcance dos pais e mães de família as “armas” (psy armas, leia-se argumentos, dentro de uma “guerra psicológica”) para o “bom combate” pela família e pela sadia formação dos filhos.

Com efeito, em meu artigo intitulado “‘Estrondo publicitário’ para denegrir a Igreja e favorecer a legalização do aborto no Brasil” (tratando dos ataques da mídia esquerdista, contra a posição da Igreja, no caso do duplo aborto da pequena G.M.B.S. de Alagoinha), prometi postar outras matérias justificando a posição da Igreja, que agiu como advogada da menina e dos dois bebes executados. São matérias que não foram divulgadas pela grande mídia — esta cedeu suas páginas apenas para um dos lados naquela controvérsia e procurou impor à opinião pública uma visão preconcebida e, desse modo, jogá-la contra a moral católica.

Assim, para se ter uma compreensão do que realmente se passou, sem as escamoteações da mídia, é de grande valia o artigo do cientista político pela UnB (Universidade de Brasília), Frederico R. de Abranches Viotti, publicado na revista Catolicismo (edição de abril/2009).

Desejando aos “visitantes” deste Blog uma boa leitura, transcrevo o referido artigo e alguns documentos reveladores que bem elucidam o affaire-Alagoinha:

Olinda – Catedral da sé


Em Recife, tentativa de quebrar a barreira psicológica contra o aborto

Frederico R. de Abranches Viotti

Em todas as recentes pesquisas de opinião, os brasileiros têm se manifestado majoritariamente contrários ao assassinato de crianças no seio materno. Algumas pesquisas chegaram a dar 90% de respostas contrárias ao aborto.

Diante desse fato, os defensores do aborto estavam com poucas possibilidades de conseguir a aprovação legal desse ato, considerado crime pela lei dos homens e abominável pela Lei de Deus, estando incluído pelo Catecismo Romano entre os que “bradam aos Céus e clamam a Deus por vingança”.

Todavia, um acontecimento recente — com grande carga emocional — fez com que o debate sobre o aborto fosse reaberto.

O caso
Foi amplamente noticiado pela imprensa nacional e internacional o caso ocorrido em Alagoinha e Recife (PE), onde uma menor de nove anos de idade, violentada por seu padrasto, ficou grávida de gêmeos. Os meios de comunicação não deram ao caso uma cobertura jornalística isenta, limitando-se a explorar a situação emocional que dela decorreu.

Após a realização do aborto na menor, os jornais começaram a divulgar que S. Exa. Revma., o Arcebispo de Recife D. José Cardoso Sobrinho, tinha excomungado a mãe da menina e os médicos que participaram do aborto. Surgiram opiniões contraditórias, até mesmo entre o clero no Brasil e no próprio Vaticano, sobre o cabimento ou não da penalidade de excomunhão.
Na realidade, D. José Cardoso Sobrinho apenas tinha alertado sobre a pena de excomunhão prevista no Código de Direito Canônico (a lei da Igreja) antes de o aborto ter sido praticado. Ele concedeu essa entrevista no dia 3 de março, sendo que o aborto foi realizado no dia 4 (Vide, mais abaixo, o relato intitulado “Grávida de gêmeos”).

A lei da Igreja prevê, em seu cânon 1398: “Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”, ou seja, quem participa do aborto incorre em pena automática (sem necessidade de ser decretada) de excomunhão.

Mas a confusão do noticiário não ficou apenas nisso. Muitos detalhes foram deliberadamente omitidos para favorecer a posição pró-aborto, como se existissem “abortos bons” e “abortos ruins”. A título de exemplo, podemos citar alguns dos fatos omitidos:


•1. a menor foi subtraída de um hospital que se
negara a realizar o aborto, e transferida para outro favorável a essa
prática;
•2. a mãe da menor era contra o aborto, até lhe terem
inculcado que sua filha morreria, caso não abortasse;
•3. o aborto foi
praticado às pressas, sem que o pai biológico da menina pudesse
intervir;
•4. feministas fizeram um verdadeiro cerco à criança,
impedindo até mesmo a assistência espiritual que vinha sendo prestada pelo padre
da cidade de Alagoinha...

Seria muito longo enumerar a lista de atos suspeitos que cercam o caso. Para isso, remetemos ao relatório apresentado pelo Pe. Edson Rodrigues, pároco de Alogoinha (PE), onde residia a menor violentada. (Vide transcrição, mais abaixo, intitulada “Excertos da Nota da Arquidiocese
de Olinda e Recife”)

Ademais, é também importante noticiar que, na mesma época em que se deu o aborto na cidade de Recife, outra menor, também de nove anos, dava à luz uma criança no Equador. Há algumas décadas, Lina Medina, uma peruana que ainda vive, foi mãe aos cinco anos de idade, conforme notícia do “Correio Braziliense” em 11-9-02 (http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020911/vid_mat_110902_36.htm).
Devido a esses fatos, o Pe. Edson Rodrigues está convencido tratar-se de “ato de manipulação da consciência”.

Verdadeira manobra de “guerra psicológica”
Foi desencadeada uma enorme manobra de “guerra psicológica”, sob o pretexto de defender a vida da menina contra o “obscurantismo” da Igreja. Até o presidente da República manifestou-se contra a doutrina católica.


O quadro criado pelo noticiário de certa mídia era tendencioso. De um lado a Igreja, representada por D. José Cardoso Sobrinho, bispo destituído de misericórdia, que não se importaria com a vida da menina violentada; de outro, feministas, abortistas, ateus e diversos outros segmentos propugnavam uma moral relativista, a pretexto de salvar a vida da criança de nove anos.

Dessa maneira, o aborto não era apresentado em seu lado desumano, que é o assassinato de seres indefesos, mas como uma defesa da vida da menor violentada. Estava montado um verdadeiro circo de desinformação e sensacionalismo, que obviamente servia a um único propósito: favorecer a prática do aborto e dividir a opinião católica.

Não foi sem razão que Nosso Senhor Jesus Cristo advertiu: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”. Sem essa cautela, um católico pode acabar influenciado pela mídia e, de forma sub-reptícia, opor-se à doutrina moral da Igreja quanto ao tema do aborto.

E-mail do autor: fredericoviotti@catolicismo.com.br

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Grávida de gêmeos em Alagoinha (PE)
O lado que a imprensa deixou de contar



Excertos do relatório elaborado pelo Pe. Edson Rodrigues, pároco de Alagoinha (PE), redigido anteriormente à Nota da Arquidiocese de Olinda e Recife, mas que serve como complemento dela, ao apresentar uma visão objetiva e integral do ocorrido


No dia 25 de fevereiro, nossa cidade foi tomada de surpresa por uma trágica notícia de um acontecimento que chocou o País: uma menina de nove anos de idade, tendo sofrido violência sexual por parte de seu padrasto, engravidou de dois gêmeos. [...]

O Conselho Tutelar de Alagoinha tomou as devidas providências. Na sexta-feira, dia 27 de fevereiro, levou as crianças ao IML de Caruaru-PE e depois ao IMIP (Instituto Médico Infantil de Pernambuco), de Recife, a fim de serem submetidas a exames. Chegando ao IMIP, em contato com a assistente social Karolina Rodrigues, a conselheira tutelar Maria José Gomes foi convidada a assinar um termo, em nome do Conselho Tutelar, que autorizava o aborto. Frente à sua consciência cristã, a conselheira negou-se diante da assistente a cometer tal ato. Foi então quando recebeu das mãos da assistente Karolina um pedido escrito que solicitava um “encaminhamento ao Conselho Tutelar de Alagoinha” [...] Os cinco conselheiros enviaram ao IMIP um parecer contrário ao aborto. [...]

No sábado, dia 28, fui convidado a acompanhar o Conselho Tutelar até o IMIP em Recife, onde, junto com a conselheira Maria José Gomes e mais dois membros de nossa paróquia, fomos visitar a menina e sua mãe. Chegamos ao IMIP por volta das 15 horas. Subimos ao 4º andar, onde estavam a menina e sua mãe em apartamento isolado. O acesso ao apartamento era restrito, necessitando de autorização especial. [...]

Com a proibição de acesso ao apartamento onde a menina estava, me encontrei com a mãe da criança ali mesmo no corredor. Profunda e visivelmente abalada com o fato, expôs para mim que tinha assinado “alguns papéis por lá”. A mãe é analfabeta e não assina sequer o nome, tendo sido chamada a pôr as suas impressões digitais nos citados documentos.

Perguntei a ela sobre o seu pensamento a respeito do aborto. Valendo-se de um sentimento materno marcado por preocupação extrema com a filha, ela me disse da sua posição desfavorável à realização do aborto. [...] Saímos do IMIP com a firme convicção de que a mãe da menina se mostrava totalmente desfavorável ao aborto dos seus netos.

Na segunda-feira, retornamos ao hospital. Ao chegarmos, eu e mais dois conselheiros tutelares, fomos autorizados a subir ao 4º andar, onde estava a menina. Tomamos o elevador, e quando chegamos ao 1º andar, um funcionário do IMIP interrompeu nossa subida e pediu que deixássemos o elevador e fôssemos à sala da assistente social em outro prédio. Chegando lá, fomos recebidos por uma jovem assistente social chamada Karolina Rodrigues. Entramos em sua sala eu, Maria José Gomes e Hélio, conselheiros de Alagoinha, Jeanne Oliveira, conselheira de Recife, e o pai [biológico] da menina, o Sr. Erivaldo, que foi conosco para visitar a sua filha, com uma posição totalmente contrária à realização do aborto dos seus netos. [...]

Perguntamos sobre a situação da menina como estava. Ela nos afirmou que tudo já estava resolvido e que, com base no consentimento assinado pela mãe da criança em prol do aborto, os procedimentos médicos deveriam ser tomados pelo IMIP dentro de poucos dias. Sem compreender bem do que se tratava, questionei a assistente no sentido de encontrar bases legais e fundamentos para isto. Ela, embora não sendo médica, nos apresentou um quadro clínico da criança bastante difícil, segundo ela, com base em pareceres médicos, ainda que nada nos tivesse sido apresentado por escrito.

Justificou-se com base em leis e disse que se tratava de salvar apenas uma criança, quando rebatemos a idéia alegando que se tratava de três vidas. Ela, desconsiderando totalmente a vida dos fetos, chegou a chamá-los de “embriões” e que aquilo teria que ser retirado para salvar a vida da criança. Até então ela não sabia que o pai da criança estava ali sentado ao seu lado.

Quando o apresentamos, ela perguntou ao pai, o Sr. Erivaldo, se ele queria falar com ela. Ele assim aceitou. Então a assistente nos pediu que saíssemos todos de sua sala e os deixassem a sós para essa conversa. Depois de cerca de vinte e cinco minutos, saíram os dois da sala para que o pai pudesse visitar a sua filha. No caminho entre a sala da assistente e o prédio onde estava o apartamento da menina, conversei com o pai e ele me afirmou que sua idéia desfavorável ao aborto agora seria diferente, porque “a moça me disse que minha filha vai morrer e, se é de ela morrer, é melhor tirar as crianças”; afirmou o pai quase que em surdina para mim, uma vez que, a partir da saída da sala, a assistente fez de tudo para que não nos aproximássemos do pai e conversássemos com ele. Ela subiu ao 4º andar sozinha com ele e pediu que eu e os conselheiros esperássemos no térreo. Passou-se um bom tempo. Eles desceram e retornamos à sala da assistente social. O silêncio de que havia algo estranho no ar me incomodava bastante. Desta vez não tive acesso à sala.

Porém, em conversa com os conselheiros e o pai, a assistente social Karolina Rodrigues reclamou da conselheira [Maria José Gomes], porque esta tinha me permitido ver a folha de papel na qual ela [Karolina] solicitara o parecer do Conselho Tutelar de Alagoinha; [e como este negou o aborto, ela] rasgou a folha na frente dos conselheiros e do pai da menina. [...]

Durante todo o tempo de permanência no IMIP, não tivemos contato com nenhum médico. Tudo o que sabíamos a respeito do quadro da menina era apenas fruto de informações fornecidas pela assistente social. [...]

Dada a repercussão do fato, surge um novo capítulo na história. O Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, e o bispo de nossa Diocese de Pesqueira, Dom Francisco Biasin, sentiram-se impelidos a rever o fato, dada a forma como ele se fez. Dom José Cardoso convocou, portanto, uma equipe de médicos, advogados, psicólogos, juristas e profissionais ligados ao caso para estudar a legalidade ou não de tudo o que havia acontecido. Nessa reunião estava presente o Sr. Antonio Figueiras, diretor do IMIP que, constatando o abuso das atitudes da assistente social frente a nós, e especialmente com o pai, ligou ao hospital e mandou que fosse suspensa toda e qualquer iniciativa que favorecesse o aborto das crianças. E assim se fez. [...]

Já a caminho da residência do Arcebispo, por volta das cinco e meia da tarde, Dom José Cardoso recebeu um telefonema do Diretor do IMIP no qual ele lhe comunicava que um grupo de uma entidade chamada Curumins, de mentalidade feminista pró-aborto, acompanhada de dois técnicos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, teriam ido ao IMIP e convencido a mãe a assinar um pedido de transferência da criança para outro hospital, o que a mãe teria aceito. [...]
O que teriam dito as militantes do Curumim à mãe, para que ela mudasse de opinião? Seria semelhante ao que foi feito com o pai? [...] Convocamos órgãos de imprensa para fazer uma denúncia, frente ao apelo do pai que queria saber onde estava a sua filha.

Na manhã da quarta-feira, dia 4 de março, ficamos sabendo que a criança estava internada na CISAM. [...] Lá, por volta das 9 horas da manhã, nosso sonho de ver duas crianças vivas se foi, a partir de ato de manipulação da consciência, extrema negligência e desrespeito à vida humana.

Isto foi relatado para que se tenha clareza quanto aos fatos como verdadeiramente eles aconteceram.


Pe. Edson Rodrigues
Pároco de Alagoinha (PE)
padreedson@hotmail.com


Fonte: (http://www.salvemaria.org.br/index.php?system=news&news_id=610&action=read)
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Excertos da Nota da Arquidiocese
de Olinda e Recife (*)

Personalidades de Recife e da cidade de Pesqueira (PB) emitiram nota clara e incisiva refutando o artigo “Da parte da menina brasileira”, de autoria do Mons. Rino Fisichella, presidente da Pontifícia Academia pela Vida, publicado no “Osservatore Romano”.


A respeito do artigo intitulado “Dalla parte della bambina brasiliana” (fac-símile acima), publicado no “L’Osservatore Romano”, edição de 15 de março, nós, abaixo assinados, declaramos: [...]

2. Todos nós — a começar pelo pároco de Alagoinha (abaixo assinado) — tratamos a menina grávida e sua família com toda caridade e doçura. O Pároco, fazendo uso de sua solicitude pastoral, ao saber da notícia em sua residência, dirigiu-se de imediato à casa da família, onde se encontrou com a criança para lhe prestar apoio e acompanhamento [...]. E esta atitude se deu durante todos os dias, desde Alagoinha até Recife, onde aconteceu o triste desfecho do aborto de dois inocentes. Portanto, fica evidente e inequívoco que ninguém pensou em primeiro lugar em “excomunhão”. Usamos todos os meios ao nosso alcance para evitar o aborto e assim salvar as TRÊS vidas. [...]

3. Depois que a menina foi transferida para um hospital da cidade do Recife, tentamos usar todos os meios legais para evitar o aborto. A Igreja em momento algum se fez omissa no hospital. O Pároco da menina realizou visitas diárias ao hospital, deslocando-se da cidade que dista 230 km de Recife. [...]

4. Nossa Santa Igreja continua a proclamar que a lei moral é claríssima: nunca é lícito eliminar a vida de um inocente para salvar outra vida. Os fatos objetivos são estes: há médicos que explicitamente declaram que praticam e continuarão a praticar o aborto, enquanto outros declaram com a mesma firmeza que jamais praticarão o aborto. [...]

5. É falsa a afirmação de que o fato foi divulgado nos jornais somente porque o Arcebispo de Olinda e Recife se apressou em declarar a excomunhão. Basta ver que o caso veio a público em Alagoinha na quarta-feira, dia 25 de fevereiro, o Arcebispo se pronunciou na imprensa no dia 3 de março e o aborto se deu no dia 4 de março. [...] Assim sendo, a notícia da menina grávida já estava divulgada nos jornais antes da consumação do aborto. Somente então, interrogado pelos jornalistas, no dia 3 de março (terça-feira) o Arcebispo mencionou o cânon 1398. Estamos convictos de que a divulgação desta penalidade medicinal (a excomunhão) fará bem a muitos católicos, levando-os a evitar este pecado gravíssimo. [...]

6. O hospital que realizou o aborto na menininha é um dos que sempre realizam este procedimento em nosso Estado, sob o manto da “legalidade”. Os médicos que atuaram como carrascos dos gêmeos declararam e continuam declarando na mídia nacional que fizeram o que já estavam acostumados a fazer “com muito orgulho”.


7. O autor [do artigo publicado no jornal L’OSSERVATORE ROMANO — foto ao lado] arvorou-se do direito de falar sobre o que não conhecia, e o que é pior, sequer deu-se ao trabalho de conversar anteriormente com o seu irmão no episcopado, e por esta atitude imprudente está causando verdadeiro tumulto junto aos fiéis católicos do Brasil. Ao invés de consultar o seu irmão no episcopado, preferiu acreditar na nossa imprensa declaradamente anticlerical.


Recife-PE, 16 de março de 2009
Pe. Edson Rodrigues
Pároco de Alagoinha-PE - Diocese de Pesqueira
Mons. Edvaldo Bezerra da Silva
Vigário Geral - Arquidiocese de Olinda e Recife
Pe. Moisés Ferreira de Lima
Reitor do Seminário Arquidiocesano
Dr. Márcio Miranda
Advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife
(
http://www.arquidioceseolindarecife.org.br/notaoficial.htm)


* Para ler a íntegra click nas imagens que seguem:

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