9 de outubro de 2013

PERPLEXIDADES


Paulo Roberto Campos 

Nestes últimos dias tenho sido “bombardeado” por perguntas
de amigos (alguns nem tanto assim...) questionando-me sobre o que penso a respeito das recentes declarações do Papa Francisco — feitas de modo geral à mídia, mas sobretudo nas entrevistas concedidas à revista italiana “La Civiltà Cattolica”(1), em 19-9-13, e ao diário “La Repubblica”(2), em 1º-10-13 — e a confusão que elas vêm causando nos meios católicos. 

Para alguns tenho respondido que a mídia tem dado muito destaque a tais declarações; que estas foram feitas na condição de um particular, mas que a mídia as tem publicando como se fossem em nome da Igreja e representando o seu pensamento. Tal equivoco tem provocado desnorteamento nas fileiras católicas, uma vez que muitos não discernem que um Papa só fala em nome da Igreja quando faz algum pronunciamento oficial ex cathedra e seguindo uma série de condições.


Pelo que tenho lido — de modo especial em fóruns de leitores — as referidas declarações têm causado muita perplexidade nos católicos e muita satisfação em indivíduos declaradamente anticatólicos. Apenas um exemplo: O movimento abortista Pro-Choice women everywhere esta espalhando cartazes, como este da foto ao lado, com os dizeres: “Caro Papa Francisco, Obrigado”. 

Aos meus questionadores tenho dito também que precisaria de tempo para maturar o assunto antes de emitir alguma opinião segura. Entretanto, nas ocasiões em que as perplexidades nos assaltam, aconselho que tenhamos plena confiança na promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo: “As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja”. Christus vencit, Christus regnat, Christus imperat (“Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera”).

Ontem, relendo algumas das perplexitantes declarações do Romano Pontífice e comentários sobre elas, encontrei um artigo que, imagino, poderia esclarecer alguma coisa. É de autoria do Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa (de Anápolis – GO) e foi publicado no site “Capela Santa Maria das Vitórias” 
(http://santamariadasvitorias.org/nao-existe-um-deus-catolico/). O ilustre sacerdote trata apenas de duas declarações, mas transcrevo aqui seu artigo com a esperança de poder auxiliar em algo os meus indagadores, amigos ou não... 

Não existe um Deus Católico? 

Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa 

Confesso que fiquei perplexo lendo esta frase ontem: “Não existe um Deus católico.” 

Embora a expressão “Deus católico” seja insólita, negá-la no contexto em que foi negada tem consequências desastrosas. Realmente. 

O Antigo Testamento está repleto da expressão o Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, atestando que o Deus vivo e verdadeiro se revelava ao povo eleito, depositário de suas promessas e ensinamentos, e se distinguia dos ídolos das falsas religiões que aterrorizavam os povos pagãos. 

Completando-se com a encarnação do Verbo de Deus a Revelação Divina, a qual se encerra com a morte do último apóstolo, e sendo a Igreja Católica a depositária de tal revelação, dizer que não se crê em um “Deus Católico” parece-me favorecer a heresia monolátrica, isto é, a crença em um deus único, concebido pela mente humana, distinto do Deus Uno e Trino, que se revelou, encarnou, fundou a Igreja Católica para perpetuar sua obra de salvação do mundo. 

Dizer “não existe um Deus Católico”, no ambiente atual de ecumenismo maçônico e diálogo interreligioso sem fronteiras, só contribui para a demolição da fé católica e reforça a marcha do mundo contemporâneo rumo ao deísmo, ao panteísmo, à gnose universal. Afirmar “não existe um Deus Católico” é um convite dirigido aos “irmãos” pedreiros livres e aos “homens de boa vontade” para trabalharem todos juntos na fundação de uma nova religião de uma nova era da humanidade, em que o homem será a sua própria lei. 

A infelicidade de tal afirmação cresce ainda mais quando se tem presente que nos dias de hoje o Deus da Metafísica, o Ser Absoluto, o primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira incausada, o Ato Puro dos estudiosos da Ontologia, que serve de base para uma exposição racional do mistério da Revelação Divina, desapareceu completamente da cultura contemporânea. De modo que negar o “Deus Católico” não significa ceder lugar ao Ser Absoluto na mente dos homens de hoje, mas sim ceder lugar à “energia cósmica” que alguns imaginam como um demiurgo. 

Acresce que na mesma entrevista o bispo de Roma disse que “cada um tem a sua própria concepção de bem e mal e deve escolher seguir o bem e combater o mal como concebe .” Ora, isto equivale a proclamar a soberania absoluta da consciência individual, que já não terá sua autoridade e legitimidade à proporção em que aplica fielmente a lei de Deus na direção da vida humana. 

Sinceramente, estou convencido de que a chave para entender o drama dos nossos tempos, não está tanto em meditar as promessas de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, quanto na meditação da passagem do Evangelho segundo Lucas: “Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?" (Lc. 18, 8). Sim, as portas do inferno não prevalecerão, mas os homens maus têm um poder enorme de corromper a fé e desfigurar a Igreja e reduzi-la a frangalhos. 

Se se dispensa um “Deus Católico”, se cada um pode seguir o bem como o concebe, será necessária a Igreja para a salvação? No máximo, será um auxílio para aqueles que querem construir uma utopia de um mundo novo, de um mundo melhor de liberdade, igualdade e fraternidade. Em tal perspectiva, que restará da Igreja? Restarão grupos esparsos de homens que conservam a fé imutável no Deus Uno e Trino. 

Que Deus tenha misericórdia de nós. As tentações são muitas. Que Nossa Senhora das Vitórias, neste mês do Rosário, esmague as esquadras do modernismo, como em Lepanto esmagou o inimigo infiel. 
Anápolis, 2 de outubro de 2013. 
Festa dos Santos Anjos Custódios. 
______________ 
1. www.repubblica.it 
2. http://www.laciviltacattolica.it/it/

3 comentários:

Julio disse...

Muy interesante la carta del cura brasilero. Muy oportuna, Obrigado.

luis disse...

Não julgo o papa, mas ele jogou lenha na fogueira para os adversários da Igreja Católica nos queimar. Nós que lutamos para a manutenção da família, não somos obcecados, mas abnegados, muitas vezes deixando de lado nosso tempo de lazer para nos dedicarmos a defender os valores cristãos. Sacrificamo-nos em lutar contra movimentos (estes, sim, obcecados) que querem liquidar o que resta da família, instituindo leis a favor do aborto, do homossexualismo, do divórcio, da eutanásia etc., e somos taxados de obcecados! Com todo respeito, não dá para aceitar o que o papa disse. Aliás, conforme seu artigo, um católico não tem obrigação de aceitar o que o papa disse enquanto um particular. Evidentemente, ele não falou em nome da Igreja, mas emitiu uma opinião particular.

Marcel disse...

Mais um ato do Papa Francisco que deixa a gente ainda mais perplexos: notícia distribuída pela ANSA (8-10-2013):

"A imprensa italiana informou nesta terça-feira (8) que o papa Francisco respondeu a uma carta enviada por um grupo de homossexuais que pedia abertura e diálogo por parte da Igreja Católica. Segundo o jornal La Repubblica, o pontífice definiu a carta como um gesto de "espontânea confiança", mas o Vaticano não divulgou a troca de correspondências, que chegou até os jornais por meio do italiano Innocenzo Pontillo, um dos responsáveis pela iniciativa.
A carta foi enviada ao papa no último mês de junho. O documento lamentava a maneira como a Igreja "alimenta sempre a homofobia" e pedia que o Vaticano começasse a tratar os gays como pessoas, e não como uma "categoria". Pontillo destacou que, em sua resposta, o papa enviou sua "benção" e demonstrou "apreciar muito o que foi escrito".
"Nenhum de nós poderia imaginar que ele faria uma coisa do tipo", contou o italiano, surpreendido. Desde quando foi eleito, em março, Francisco fez declarações polêmicas sobre os homossexuais, reprimindo, às vezes, as concepções da própria Igreja Católica.
Em julho, o papa declarou que não se deve "julgar" ninguém por ser gay. "Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas, devem ser integradas à sociedade. Devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby, de pessoas gananciosas, lobby de políticos, de maçons, tantos lobbies. Esse é o pior problema", afirmou.
No mês passado, em uma entrevista exclusiva a um jornal italiano, Francisco também disse que a Igreja era "obcecada por aborto e gays".