29 de março de 2015

Brasil autêntico e cristão apresentou sua verdadeira face

Catolicismo
Capa da revista Catolicismo, edição de abril de 2015. Panorâmica da manifestação na Av. Paulista [Foto Robson Fernandjes] e foto de voluntários do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira no evento [Foto Diogo Waki]

Descontentes com os rumos da Nação, milhões de brasileiros de todos os quadrantes se congregaram para protestar, de forma ordeira e pacífica, revelando apreciáveis qualidades de alma do nosso povo

      Frederico R. de Abranches Viotti
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 772, Abril/2015

Protesto na Av. Paulista em 15 de março [Foto PRC]
Protestos na Av. Paulista (SP) em 15 de março [Foto PRC]

Esta manifestação está muito esquisita: as pessoas esbarram na gente e pedem desculpa!”

Assim resumiu um dos manifestantes o clima de cordialidade reinante na Av. Paulista, em São Paulo, onde mais de um milhão de brasileiros, de todas as classes sociais e de todas as idades, protestaram contra a situação do País.

Nenhum incidente grave foi reportado. A própria Polícia Militar, habituada a enfrentar provocações em protestos anteriores, foi recebida com aplausos. Os manifestantes, até mesmo crianças, pediam para tirar fotos ao lado do Batalhão de Choque. O mesmo se repetiu pelo Brasil afora.

Descontentamento crescente

Em Salvador. Foto: João Alvarez
Em Salvador [Foto: João Alvarez]
São Paulo [Foto PRC]
São Paulo [Foto PRC]
Era algo novo, surpreendente, mas não propriamente inesperado. O descontentamento com os rumos do País estava muito vivo nas ruas e era percebido na Internet e em conversas entre amigos ou mesmo entre desconhecidos.

A enorme quantidade de medidas pretensamente “populares”, adotadas ou ampliadas pelo Governo em apoio aos chamados “movimentos sociais”, de fato impopulares, gerou numerosos desagrados, primeiramente em setores específicos da opinião pública brasileira. Não demorou a que esses desagrados se transformassem em uma desconfiança e esta, por sua vez, em um grande descontentamento generalizado.

Consideradas em si mesmas, cada uma dessas iniciativas governamentais não teria capacidade para gerar a reação vista no último dia 15 de março. Entretanto, o conjunto delas forma a imagem de um Brasil diverso — até mesmo antagônico — ao sentir do brasileiro comum.

Descontentamento análogo ao que Plinio Corrêa de Oliveira já denunciara como reinante atrás da Cortina de Ferro, mediante documento previdente, publicado em fevereiro de 1990, antes do desabamento final do império soviético em 1991.(1)

A oficialização paulatina da prática de aborto nos Hospitais Públicos; as leis que procuram"  regular a vida familiar a ponto de impedir até mesmo palmadas corretivas nos filhos; a imposição da chamada “ideologia do gênero” nos colégios, censurando livros didáticos que não se alinhem aos novos “valores”; a tentativa reiterada de criminalizar quem não aceita o homossexualismo, acusando-o de “homofobia”; o desejo de controlar os meios de comunicação; a cumplicidade para com invasões de terras e prédios; o desrespeito ao Direito de Propriedade através da Reforma Agrária, Quilombolas e Reservas Indígenas; a conceituação subjetiva de “trabalho escravo” com a consequente expropriação de terras; a perseguição à iniciativa privada com leis e impostos cada vez mais escorchantes e burocráticos; a implantação de uma política racial “afirmativa” que cria uma verdadeira luta de raças em território nacional; a estranha amizade com regimes ditatoriais como Cuba, Venezuela e Irã; a proposta de banir símbolos religiosos das Repartições Públicas... etc.
Em Recife [Foto Rodrigo Lôbo]
Em Recife [Foto Rodrigo Lôbo]
Em Brasília [Foto Lula Marques]
Em Brasília [Foto Lula Marques]
Soma-se a isso a percepção de que o governo atual é responsável não apenas pelos maiores escândalos de corrupção do País, mas também por ter “aparelhado” a máquina do Estado em benefício de um partido político. O descrédito das instituições republicanas chegou a um auge jamais visto.

O divórcio entre a Nação e o Estado

Manifestação em Belo Horizonte [Foto Marcelo Sant´Anna]
Manifestação no Rio de Janeiro [Foto Tasso Marcelo]

Há certos fenômenos de opinião pública que se assemelham ao estouro de uma garrafa de champanhe. A aparência de tranquilidade da garrafa em repouso esconde a pressão nela contida. No momento da abertura, aquela pressão é liberada. Assim também ocorre entre os homens. Quando o primeiro diz o que todos pensam em silêncio, a opinião contida, a exemplo da pressão dentro do champanhe, cede lugar a uma explosão de consonâncias.

No último dia 15 de março, o Brasil assistiu a uma dessas grandes consonâncias entre pessoas das mais variadas origens e condições. Não era o Brasil retratado pela grande mídia ou pelos sociólogos e analistas políticos de índole mais ou menos esquerdista, mas um Brasil profundo, verdadeiro, ordeiro e pacato, fazendo ouvir sua voz em um mesmo tom e ao mesmo tempo.

Em São Paulo [Foto Paulo Pinto
Em São Paulo [Foto Paulo Pinto]
Já em 1982 Plinio Corrêa de Oliveira escrevia para a “Folha de S. Paulo” o artigo Cuidado com os pacatos.

Dizia ele: “Se a esquerda for açodada na efetivação das reivindicações ‘populares’ e niveladoras [...]; se se mostrar abespinhada e ácida ao receber as críticas da oposição; se for persecutória [...], o Brasil se sentirá frustrado na sua apetência de um regime ‘bon enfant’ de uma vida distendida e despreocupada. Num primeiro momento, distanciar-se-á então da esquerda. Depois ficará ressentido. E, por fim, furioso. A esquerda terá perdido a partida da popularidade.”(2)

Imagens acima e abaixo, em São Paulo [Fotos PRC]
Imagens acima e abaixo, em São Paulo [Fotos PRC]
Pouco depois, em 1987, ao analisar o projeto da nova Constituição do Brasil, o mesmo autor advertia para a ruptura que estava se produzindo entre a Nação e o Estado. Para ele, se os políticos continuassem a desrespeitar esse sentimento majoritariamente conservador do brasileiro, “o divórcio entre o País legal e o País real será inevitável. Criar-se-á então uma daquelas situações históricas dramáticas, nas quais a massa da Nação sai de dentro do Estado, e o Estado vive (se é que para ele isto é viver) vazio de conteúdo autenticamente nacional”.

Catolicismo 30

Duas manifestações, duas mentalidades

Catolicismo 3“Que diferença de público entre a sexta-feira e o domingo. São dois países diferentes. O primeiro era triste, raivoso, invejoso, igualitário... No domingo, um Brasil cheio de luz, alegre, leve, calmo, sereno, ordeiro, pacífico, disciplinado, mas firme, reativo, indignado contra a corrupção e contra o PT. São dois mundos, filhos de duas mentalidades diversas”.

Com estas palavras, uma pessoa resumiu na Internet as diferenças entre a manifestação dos chamados “movimentos sociais”, realizada dois dias antes, em 13 de março, e o evento de domingo.

No dia 15, o ambiente era sereno, tranquilo, alegre. O Brasil autêntico emergiu com as características que lhe são peculiares: delicadeza de trato, calma, serenidade, rejeição à desordem. Havia grande número de famílias que compareceram: adultos, crianças e idosos. A grande maioria portando símbolos nacionais. 
Em estação do metrô, manifestantes chegando para os protestos na Av. Paulista [Foto Oswaldo Corneti]
Em estação do metrô, manifestantes chegando para os protestos na Av. Paulista [Foto Oswaldo Corneti]
Em Brasília [Foto Lula Marques]
Em Brasília [Foto Lula Marques]

Sadio patriotismo

Em São Paulo [Foto PRC]
Em São Paulo [Foto PRC]
Sadio patriotismo foi uma das notas predominantes, tendo as camisas verdes e amarelas sido usadas em abundância. Bandeiras do Brasil tremulavam em todos os cantos e faixas repetiam a frase: “Nossa bandeira jamais será vermelha”, em alusão às bandeiras vermelhas dos partidos socialistas, incluindo as utilizadas pelo MST dois dias antes.

Além do Hino Nacional, um dos trechos do Hino da Independência era muito repetido pelos participantes: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”.

O mesmo entusiasmo se verificou nas estações de metrô de São Paulo, que ficaram praticamente intransitáveis. Era tal o fluxo de pessoas que duas das estações, próximas ao local de encontro dos manifestantes, precisaram ser interditadas. A Polícia Militar calculou que quatro mil pessoas chegavam, a cada dois minutos, nessas estações.



A maior manifestação da história recente

Av. Paulista [Foto Robson Fernandjes]
Av. Paulista [Foto Robson Fernandjes]
Esse fluxo contínuo de participantes lotou não apenas a Av. Paulista, palco da maior das manifestações, mas também diversas ruas adjacentes. Segundo pessoas que lá estiveram, algumas das quais experientes em calcular o tamanho de uma multidão, jamais ocorreu manifestação como essa em nossa história recente.

Estimativas iniciais avaliam o número de participantes entre dois e cinco milhões, em mais de 200 cidades pelo Brasil e, ao menos, em 23 das 27 unidades federativas.

Isso significa não apenas que essa manifestação foi a maior numericamente, mas também a maior em termo de extensão do território nacional.

Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

Nas Av. Paulista (3 fotos abaixo), jovens do Instituto recolhendo firmas para um abaixo assinado em defesa da família [Fotos PRC]
Na Av. Paulista, jovens do Instituto recolhendo firmas 
para um abaixo assinado em defesa da família [Fotos PRC]
Todavia, mais do que o número dos participantes ou a extensão abrangida, impressionava o público, a sua qualidade. Não era o Brasil da baderna, mas era o Brasil das pessoas de bem.

 Os membros da Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira também estiveram presentes e foram entrevistados por vários jornais, entre eles “El País”, “The New York Times” e “O Estado de S. Paulo”.

 Muitas pessoas já conheciam o Instituto pelas suas campanhas recentes e vários outras se recordavam que Plinio Corrêa de Oliveira foi o fundador da TFP, entidade mundialmente célebre por sua luta anticomunista. (vide artigo abaixo).Nas Av. Paulista (3 fotos abaixo), jovens do Instituto recolhendo firmas para um abaixo assinado em defesa da família [Fotos PRC] 

Nas Av. Paulista (3 fotos abaixo), jovens do Instituto recolhendo firmas para um abaixo assinado em defesa da família [Fotos PRC]



Em Brasília [Foto Lula Marques]
Em Brasília [Foto Lula Marques

Será atendida a voz do Brasil autêntico?

Em Belo Horizonte [Foto Marcelo Sant´Anna]
Em Belo Horizonte [Foto Marcelo Sant´Anna]
Em Brasília, a concentração começou com o Pai-Nosso, entoado a partir de um dos carros de som. Em outras cidades, imagens de Nossa Senhora Aparecida eram portadas por alguns dos manifestantes. A religiosidade do brasileiro estava presente.

A imagem de um Brasil profundo, fiel a si mesmo e ardoroso defensor de suas gloriosas tradições cristãs — arraigadas desde a primeira Missa após o Descobrimento —, de seus símbolos e de suas cores, emerge nessas manifestações. Um País onde a tônica não é a inveja ou o ódio de classes, mas a benevolência cristã, a serenidade, a um só tempo cordial e firme.

Que esse dia 15 de março não seja apenas a data de um grande evento, mas sim o dia no qual a identidade de nosso País, de mentalidade marcadamente católica, faça resplandecer ainda mais intensamente o Cruzeiro do Sul, bem como a proteção da Virgem Maria, a Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil.
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br

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Notas:
  1. “Catolicismo”, nº 471, março de 1990
  2. “Folha de S. Paulo”, 14-12-1982.
  3. Plinio Corrêa de Oliveira, Projeto de Constituição Angustia o País. Editora Vera Cruz Ltda. S. Paulo, 1987, p. 201. 

Manifestação em Belo Horizonte [Foto Marcelo Sant´Anna]
Acima e abaixo, manifestações em Belo Horizonte [Foto Marcelo Sant´Anna]
Manifestação em Belo Horizonte [Foto Marcelo Sant´Anna]


Acima e abaixo, protestos em Curitiba [Fotos Orlando Kissner]
Acima e abaixo, protestos em Curitiba [Fotos Orlando Kissner]
Catolicismo 21

Em Salvador [Foto João Alvarez]
Em Salvador [Foto João Alvarez]

Em Recife [Foto Rodrigo Lôbo
Em Recife [Foto Rodrigo Lôbo]

Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira nas manifestações do dia 15 de março

Edson Carlos de Oliveira
Na Av. Paulista [Foto Diogo Wiki]
Na Av. Paulista [Foto Diogo Wiki]

Os voluntários da Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira estiveram presentes nas manifestações do dia 15 de março em São Paulo e em Brasília, nas quais recolheram assinaturas em defesa da família para uma Filial Súplica que será entregue ao Papa Francisco por ocasião do Sínodo que se realizará na Cidade Eterna em outubro próximo.  

Os jovens do Instituto não passaram despercebidos, quer na Avenida Paulista — que recebeu mais de 1 milhão de manifestantes — quer em Brasília, onde o número de pessoas que compareceram ao evento superou de longe os 45 mil apontados pela mídia.

Com gaita de foles e estandarte dourado, os jovens do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira foram muito bem recebidos pelo público presente. Várias pessoas afirmaram que já conheciam suas atividades através do site; outras dirigiam palavras de apoio ou assinavam a petição, da qual já tinham ouvido falar, incentivando seus amigos a fazerem o mesmo.

Foi expressivo o número de entrevistas concedidas por um representante do Instituto a blogueiros independentes e jornalistas da grande imprensa. As manifestações de 15 de março foram as maiores da nossa história e o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira teve a satisfação de nelas estar presente nesse momento tão importante para o Brasil. Que a Santa Mãe de Deus proteja e abençoe nossa Pátria, Terra de Santa Cruz.


Foto acima e abaixo, jovens do Instituto em atuação em Brasília [Fotos Paulo Américo]
Foto acima e ao lado, jovens do Instituto em atuação em Brasília [Fotos Paulo Américo]
Catolicismo 26

27 de março de 2015

PERU — 500 mil manifestantes marcham contra o infanticídio causado pelo aborto

[Fotos: Eduardo Berdejo/CNA]
Paulo Roberto Campos


Numa monumental marcha realizada em Lima no último domingo, 22 de março, mais de meio milhão de peruanos se concentraram para demonstrar sua recusa total à prática abortiva. Segundo os organizadores, foi a maior marcha do gênero na América Latina. Entretanto, a maior parte da mídia brasileira “não viu”. Parece que ela sofre de uma enfermidade de visão — nos dois sentidos: patológica e psicológica —, que a impede de ver os grandes acontecimentos em defesa dos valores familiares...


Belo exemplo que nossos vizinhos peruanos deram a todas as famílias latino-americanas, ao tomarem pacificamente as ruas de sua capital para expressar com entusiasmo a defesa da vida inocente desde a concepção até a morte natural.

No Peru, nação de 30 milhões de habitantes dos quais 26 milhões são católicos, não obstante se comemorar oficialmente em 25 de março o “Dia do Nascituro” e a Constituição garantir o direito à vida desde a concepção até a morte natural, o aborto é considerado legal em casos de grave malformação do feto ou quando há risco de vida para a mãe.

O congressista Juan Díaz de Deus, numa declaração à agência “ACI Prensa” (24-3-15), afirmou: “O aborto é o crime mais hediondo que se pode cometer na Terra. Crime contra a vida mais inocente e indefesa. O Estado tem a obrigação segundo nossa constituição de proteger o nascituro. Vamos nos pronunciar a partir do Congresso.” 

Os manifestantes demonstraram também repugnância ao
“casamento” homossexual, ostentando cartazes com frases como: “Deus criou Adão e Eva, e não Adão e Evo”; “Deus criou o homem e a mulher”, “Deus não criou um terceiro sexo".

No dia 10 de março último, a Comissão de Justiça do Congresso peruano rejeitou um projeto visando legalizar o “casamento” homossexual. Alguns dos legisladores que votaram contra a legalização estiveram presentes na marcha.

É interessante notar a vinculação existente entre a reação anti-aborto e aquela contra o “casamento” homossexual. Tudo a ver, pois ambas são práticas antinaturais e arruínam a família.

Enquanto isso, aqui no Brasil, o deputado Jean Wyllys, do movimento homossexual, defendeu recentemente no Congresso Nacional novo projeto (PL 882/15) para ampliar ainda mais a legalização do aborto. Foi o que noticiou a “Folha de S. Paulo” (24-3-15): “O deputado Jean Wyllys (PSOL) apresentou nesta terça-feira (24) um projeto de lei que garante às mulheres o direito(sic) de interromper no SUS (Sistema Único de Saúde) a gravidez de forma voluntária até a 12ª semana de gestação”. Assinalei com “sic”, pois como se pode ter o “direito” de cometer infanticídio?! 

No seu Twitter, o deputado homossexual e aborteiro comentou
que “O aborto é, hoje, um assunto proibido em quase todos os espaços”. Sim deputado, vivemos no Brasil e por aqui o assassinato é proibido. Aborto é um crime hediondo, pois perpetrado contra um ser inocente e indefeso. 


Vemos que o pecado do aborto e o pecado homossexual andam de mãos dadas! Ambas as práticas são condenadas pela Igreja como graves transgressões do Decálogo e constituem perversidades que bradam aos céus e clamam a Deus por vingança. 
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P.S.: Sobre a possibilidade de ampliação da lei do aborto no Brasil, é conveniente registrar que o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmou que jamais colocará em votação qualquer projeto favorável ao aborto. "Nem que a vaca tussa", disse ele em uma entrevista para o “Estado de S. Paulo”. Vamos ver... E vamos rezar e agir para que assim seja.

13 de março de 2015

Feminismo e aborto — emancipação da mulher e liberdade da mãe matar o filho?!

Lucetta Scaraffia. Professora de História Contemporânea da Universidade de Roma la Sapienza

Utopia Equivocada

Lucetta Scaraffia
"O Estado de S. Paulo", domingo, 8 de março de 2015

A legalização do aborto é considerada, infelizmente, uma das leis que indicam a modernidade de um país: de fato, a possibilidade de abortar assinala — na opinião de muitos — uma meta indiscutível no processo de libertação da mulher, a ponto de se entender o aborto como um “direito da mulher” que deve ser defendido a todo custo. É terrível pensar que a liberdade das mulheres deva ser medida em relação à morte de outro ser humano, o qual, além de tudo, é o mais fraco dos seres, um filho que depende da mãe para vir ao mundo.

É um terrível equívoco acreditar que a emancipação das mulheres possa fundamentar-se sobre essa legalização, inclusive porque, para a mulher, o aborto é sempre um momento de dor, dor física e psíquica, de autodestruição e não apenas de destruição. 


Ônus? Para se igualar aos homens, elas não precisam se libertar da maternidade. Esse erro nasce de um conceito equivocado de emancipação, da ideia de que, para se igualarem aos homens, as mulheres devam tornar-se como eles, ou seja, libertar-se da maternidade, aliviar-se de um ônus que é também um mistério maravilhoso, graças ao qual elas se tornam criadoras de uma maneira inigualável, que as faz protagonistas de uma relação extremamente intensa e especial com outros seres humanos, únicas, diferentes. É uma ideologia perigosa, uma das várias utopias equivocadas da modernidade que quer garantir a igualdade das mulheres apagando toda diferença, e particularmente a diferença que constitui sua especificidade: a maternidade. 

Nos países em que o aborto foi legalizado há dezenas de anos, e é realizado em entidades públicas, já se começa a falar do desconforto que essa intervenção provoca em todos os que nela atuam: médicos e enfermeiros — embora favoráveis à liberdade de abortar — pedem para trabalhar em turnos breves por se sentirem deprimidos e desmotivados quando destinados por longas horas a esse tipo de ocupação. 

Sem falar nas mulheres que o sofrem, embora por sua livre escolha e vivendo num contexto cultural que não as julga de maneira negativa, mas, ao contrário, considera o aborto um direito como outro qualquer. Hoje, depois de muitas intervenções, médicos e psicólogos sabem que são extremamente frequentes as depressões pós-aborto, cuja manifestação pode ocorrer anos depois do episódio médico, aparentemente esquecido. Aliás, o próprio fato de vivenciá-lo com leviandade, de enfrentá-lo como uma intervenção qualquer, torna mais difícil a aceitação do pesar e, portanto, as mulheres têm dificuldade em reconhecer e encarar a dor que ele acarreta. É como se se submetessem a uma tortura e depois fossem informadas de que esse é um direito que deve ser defendido. 

Uma tortura que não envolve apenas a mãe. As descobertas mais recentes sobre a constituição biológica do feto revelam que algumas terminações nervosas já estão formadas 40 dias depois da concepção; portanto, a ideia de que os fetos não sofram no aborto não passa de uma mentira piedosa. Tanto é verdade que já se aventou a possibilidade de submeter o feto destinado ao aborto a uma anestesia...

São reconhecimentos dramáticos, que se contrapõem à leviandade ideológica com que a intervenção é considerada e defendida nas batalhas pró-aborto, enganando mais uma vez as mulheres, induzindo-as a um conformismo “politicamente correto” que prejudica somente elas. 

A legalização do aborto possibilita — e em geral realiza imediatamente — a seleção eugenética dos nascituros: os exames pré-natais distinguem nitidamente entre crianças saudáveis e crianças doentes, e as mães são aconselhadas pelos médicos a eliminar o feto doente “pelo seu próprio bem”. 

Inútil dizer que as associações de portadores de deficiências não se cansam de declarar que eles estão felizes por ter nascido: a mentira continua prosperando. E se depois se constata que a medicina não é uma ciência exata, e uma criança sadia foi eliminada, paciência! É curioso notar que nesses casos ninguém processa o médico — mas se o médico errou prometendo um filho saudável, e este nasce “imperfeito”, imediatamente se desencadeiam batalhas legais. A legalização do aborto induz inclusive alguns casais a pedirem indenizações por um filho imperfeito, indiferentes ao fato de que ele está ali, diante deles, assistindo a uma ação legal que revela que os pais acham que teria sido melhor que ele não tivesse nascido.

O aborto, e a possibilidade legal de retirar um embrião ou um feto do único lugar em que ele está protegido, o útero materno, favoreceram o surgimento das novidades biotecnológicas que hoje permitem “fazer” filhos de “proveta” em balcão de laboratório, escolher os embriões melhores, modificá-los, inserir no processo de concepção óvulos ou embriões diferentes dos solicitados pelos pais, como um produto, um artefato. E, portanto, todos os graves problemas de bioética decorrentes do processo.

Além disso, a legalização do aborto introduz em nossas democracias uma forte contradição, que enfraquece o próprio conceito de igualdade de todos os seres humanos; de fato, ela implica existirem seres indignos de nascer, que não são iguais aos outros.

10 de março de 2015

Restringir o aborto reduz a mortalidade materna, assinala estudo

Mortalidade materna não diminui quando se aprova o aborto 

ACI, 6 de março de 2015 
Por Pilar Vigneaux 

No dia 23 de fevereiro de 2015 foi publicado no British Medical Journal um artigo que assegura que, em lugares onde as leis de aborto são mais restritas, a mortalidade materna é menor, em comparação com aqueles lugares que têm leis de aborto mais liberais. 

O MELISA Institute, organismo que fez o estudo, compilou dados dos distintos estados do México e depois os comparou, segundo “um indicador padrão de saúde materna conhecido como Razão de Mortalidade Materna (RMM), em 18 estados com legislações menos permissivas e 14 estados com legislações mais permissivas, durante um período de 10 anos, entre 2002 e 2011”.

John Thorp, médico ginecologista e pesquisador da Universidade do North Carolina em Chapel Hill, explicou — no site do MELISA Institute  que já se esperavam estes resultados do estudo, já que, em outra pesquisa realizada no Chile (a cargo do epidemiologista Elard Koch) e publicado pela revista PLoS ONE, a redução da RMM “continuou inalterada, ainda depois da restrição legal do aborto” introduzida em 1989.

Thorp destacou que não é factível que “a mudança para uma legislação de aborto menos permissiva aumente as mortes maternas per se”. Além disso, indicou que um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Stanford, em 23 estados norte-americanos, que foi publicado no Journal of Public Health, demonstrou que, quando as leis de aborto são menos permissivas, baixam as taxas de complicação por aborto. 

Agora bem, Joseph Stanford, médico e pesquisador da Universidade de Utah, assegurou que não basta ter leis de aborto mais restritas, também é necessário cobrir outras variáveis: acesso a controles pré-natais, atenção profissional no parto, e cuidados obstétricos de emergência, tudo isso é fundamental para reduzir a morte materna.

O sociólogo da Universidade Autônoma do México, Fernando Pliego PhD, considera que, além das variáveis antes mencionadas, na saúde materna também influenciam o nível educacional da mulher grávida, a taxa de fecundidade e os níveis de violência contra as mulheres. 

Sebastián Haddad, médico e pesquisador da Universidade de Anáhuac, no México, considera que ainda há mais variáveis que influenciam na saúde materna: “a pobreza, a desnutrição e a exposição a doenças infecciosas das mulheres durante sua idade fértil, aumentam o risco de morte materna. Assim como a gravidez de alto risco sem uma apropriada derivação a cuidados médicos especializados”. 

O Instituto MELISA é uma instituição sem fins lucrativos para a pesquisa biomédica avançada. Seu fundador e diretor é o doutor chileno Elard Koch, que foi enfático em afirmar por distintos meios que a mortalidade materna não diminui quando se aprova o aborto. 

Tudo isto no contexto da recente apresentação no Chile do projeto de despenalização do aborto, por parte do governo de Michelle Bachelet, em três ocasiões: a suposta inviabilidade do nascituro, o “risco” de perder a vida da mãe e o estupro. 

A proposta legislativa, que será discutida no Congresso do país, inclui o aborto para menores de 14 anos.

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Fonte: ACI, 6 de março de 2015 

2 de março de 2015

“Mudança de sexo”: Impossibilidade biológica — Revolta contra Deus


Luiz Sérgio Solimeo 

O movimento homossexual acrescentou ao seu acrônimo “LGB” o “T” de “transsexual,” numa espécie de “frente comum” de todas as anomalias do comportamento sexual. Por isso o acrônimo vai aumentando sempre mais, por exemplo, “LGBTTQQIAAP” (Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Travestite, Queer, Questioning, Intersex, Asexual, Ally, Panssexual). 

A inclusão do chamado “transsexualismo” ou “transgenderismo” na campanha homossexual mostra o aspecto ideológico que essa anomalia desempenha na atual “guerra cultural” que está transformando nossa civilização por meio da destruição da moral baseada na Lei natural e divina.

Impossibilidade biológica 

“É impossível fisiologicamente mudar o sexo de uma pessoa”, “uma vez que o sexo de cada um está codificado em seus genes—XX para a mulher, XY para o homem.” explicam Richard P. Fitzgibbons, M.D., Philip M. Sutton, Ph.D., e Dale O’Leary em documentado estudo. “A cirurgia pode somente criar uma aparência do outro sexo,” pois a identidade sexual, “está escrita em cada célula do corpo e pode ser determinada por meio do teste do DNA, não podendo ser mudada.”(1)

O mesmo afirma o Dr Joseph Berger, psiquiatra e neurologista de renome: “A cirurgia cosmética não fará um homem se tornar mulher, capaz de menstruação, ovulação, e ter filhos. A cirurgia cosmética também não fará de uma mulher um homem, capaz de produzir esperma que pode ser unido a um óvulo de uma mulher fertilizando-o para produzir uma criança.”(2)

O desejo de “mudar de sexo” tem sua raiz em distúrbios psicológicos, problemas de personalidade ou morais. É por isso que o Dr. McHugh, que chefiou o departamento de psiquiatria do Hospital Johns Hopkins, de Baltimore, depois de muitos estudos em cooperação com outros psiquiatras, afirmou que chegou à conclusão que “realizar alterações cirúrgicas no corpo dessas desafortunadas pessoas era colaborar com sua desordem mental em vez de tratá-la.”(3) 

“No cerne do problema do transgender está uma confusão sobre sua natureza,” explica e afirma que “a ‘mudança de sexo’ é biologicamente impossível”. As pessoas que fazem operações “não mudam de homem para mulher e vice-versa. Antes, se tornam homens feminizados ou mulheres masculinizadas.” Portanto, conclui, “defender que se trata de um direito civil e encorajar tais cirurgias é, na realidade, colaborar e promover uma desordem mental.”(4) 

A “Teoria do Gênero e o transgenderismo

A difusão da “teoria do gênero” (gender theory) não somente ajudou enormemente o progresso do movimento homossexual, mas tende a “normalizar” a pretensa mudança de sexos. 

Isso porque, segundo essa teoria, o sexo de uma pessoa não seria determinado pelo seu componente biológico e genético mas sim pelo modo como ela se considera a si mesma. O “gênero sexual” seria fruto de “uma escolha,” de uma “orientação” assumida por uma pessoa. Então, porque não adaptar o próprio corpo, mediante operações e hormônios, para assemelhá-lo à do sexo escolhido? 

Segundo a Dra. Marguerite Peeters, professora na pontifícia Universidade Urbaniana de Roma, “em 1955, um psiquiatra americano, John Money, introduziu o conceito de ‘papel sexual’ (gender role) para distinguir a identidade sexual biológica do papel social que o individuo escolheu representar independentemente de sua identidade biológica. Em seguida, houve duas correntes que levaram o conceito a seu inteiro desenvolvimento: a corrente feminista e a corrente homossexual.” Através dessa teoria, conclui ela “se está desconstruindo a identidade masculina e feminina.”(5)

Revolta contra Deus

A impossibilidade de mudar o sexo com que se nasceu não contraria somente a realidade biológica; ela vai contra sobretudo com a vontade de Deus. Ninguém nasce homem ou mulher por mero acaso, mas em virtude dos inescrutáveis desígnios da Divina Providência, conforme se pode ler no profeta Jeremias: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia.”(6)


Portanto, faz parte dos planos de Deus, da sabedoria divina que ordena todas as coisas,(7) que uns nasçam homens e outros mulheres e ir contra os desígnios divinos é um ato de revolta contra o Criador. 

A diferença dos sexos é um reflexo da perfeição divina e tem por fim a realização dos planos de Deus em relação à humanidade: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: ‘Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a.’”(8) 

Assim, em relação às pessoas que estão com problemas de confusão em relação ao próprio sexo, a caridade cristã impõe que se as ajude, com respeito e compaixão, não para aumentar-lhes a confusão em que se encontram, ou dar-lhes uma falsa solução cirúrgica, mas para ajudar a sair da mesma. A caridade “se rejubila com a verdade” diz São Paulo,(9) e portanto a misericórdia nunca pode se contrapor à verdade pois somente a verdade é que liberta.(10)

________________ 
Notas: 
1. The Psychopathology of “Sex Reassignment” Surgery Assessing Its Medical, Psychological, and Ethical Appropriateness, The National Catholic Bioethics Center, http://ncbcenter.org/document.doc?id=581. 
2.http://arpacanada.ca/attachments/article/1724/Testimony%20of%20Dr.%20Berger%20re%20c279.pdf. 
3. Surgical Sex, Why We Stopped Doing Sex Change Operations, by Paul R. McHugh, “First Things”, November 2004, http://www.firstthings.com/article/2004/11/surgical-sex.
4. Transgender Surgery Isn't the Solution - A drastic physical change doesn't address underlying psycho-social troubles, Paul McHugh, Wall Street Journal, June 12, 2014, http://www.wsj.com/articles/paul-mchugh-transgender-surgery-isnt-the-solution-1402615120.
5. MARGUERITE PEETERS (auteur de “Le gender, une norme mondiale ?”) : « Je suis contre le ministère du Genre », Le Mauricien | 18 novembre, 2013, Retrieved 2/26/2015 at http://www.lemauricien.com/article/marguerite-peeters-auteur-gender-norme-mondiale-je-suis-contre-ministere-du-genre.
6. Jeremias 1:5.
7. Cf. Sabedoria 8:1.
8. Gen. 1:27-28.
9. 1Coríntios 13:6.
10. São João 8:32.