26 de julho de 2015

Palestras sobre ambientalismo e a recente Encíclica do Papa Francisco


Um público profundamente interessado lotou o auditório do Club Homs, em São Paulo, e acompanhou com avidez uma crítica científica da recente Encíclica sobre ecologia e a polêmica que ela suscitou no mundo católico, científico e cultural.

Luis Dufaur

No dia 16 de julho p.p., por iniciativa do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, palestraram no Club Homs da capital paulista o Prof. Luiz Carlos Molion e o autor deste artigo.

O Prof. Molion é meteorologista, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), PhD em Meteorologia e pós-doutor em Hidrologia de Florestas, ele assestou o foco nos aspectos científicos da Encíclica Laudato Si

Crítica científica da Laudato Si 

Ele observou as múltiplas impropriedades, do ponto de vista da ciência, contidas na recente Encíclica, pois adota hipóteses controvertidas como se fossem resultantes de um consenso entre os especialistas. 

Também sublinhou que o termo “consenso” jamais pode ser usado na ciência, pois é ele mais próprio da política e de seus conchavos. A ciência é questionadora por natureza. 

O Prof. Molion [foto acima] explicou que a análise dos dados dos últimos 420 mil anos registra sucessivas eras glaciais com cerca de 100 mil anos de duração cada uma, interrompidas por períodos quentes ou interglaciários de 10 a 12 mil anos de duração. 

A última glaciação ocorreu há 130 mil anos. Nesse período, pode-se constatar que o CO2 nunca causou alteração da temperatura. Pelo contrário, ele acompanhou as mudanças da temperatura com um atraso de 800 a mil anos, ou até 5 mil. 

O CO2 é um seguidor e não um condutor. O grande controlador do CO2 na atmosfera são os oceanos, que constituem 71% da superfície da Terra. Dos 510 milhões de quilômetros quadrados do Planeta, 361 milhões são cobertos pelos oceanos. 

Segundo o abalizado especialista, vivemos hoje num período interglacial iniciado há cerca de 15 mil anos. Nos interglaciários anteriores, a temperatura atingiu de 6º a 10º acima da atual. Qual era a atividade humana que aqueceu o planeta? perguntou o palestrante. Nessas épocas nem existia o Homo Sapiens! 

Esse aquecimento apenas se explica por processos físicos naturais, independentes de qualquer presença ou atividade humana. 

A história da Humanidade civilizada que conhecemos transcorreu nos últimos 10 mil anos, tendo havido quatro períodos muito mais quentes que o atual: o ótimo do Holoceno, há 8 mil anos; o Minuano quente, ocorreu 3.500 anos atrás e correspondeu à civilização de Minos; o Romano quente — entre 400 a.C. a 300 d.C. — que inclui a época da vida de Cristo; e o Medieval quente, entre 900 e 1250 ou 1300 d.C. 

Entre 1350 e 1850, quiçá até inicio do século XX, houve um período frio em que a temperatura média da Europa ficou 2ºC abaixo da atual. 

O interglacial em que vivemos tende ao resfriamento. Já passamos pelo máximo de calor 6 mil anos atrás e estamos rumando bem devagar para uma nova era glacial. Ninguém precisa se preocupar, pois para se chegar a 8º ou 10º abaixo do que está hoje levará cem mil anos. 

De acordo com o Prof. Molion, fica assim claro que o Papa Francisco foi muito mal assessorado na redação da Encíclica. 

O documento papal também recolhe a ideia de um aumento catastrófico do nível dos mares. Em 2007, o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC) previa um aumento de 59 cm até 2100; em 2013 sua previsão saltou para 98 cm. E o líder aquecimentista Al Gore afirma em seu laureado trabalho que o aumento seria de 6 metros! Só que, apesar desse salto vertiginoso, ele comprou uma mansão em Montecito, na Califórnia, pelo valor de 9 milhões de dólares, bem junto à praia...! 

O palestrante mostrou que é impossível medir o nível do mar, pois ele não se trata de um sólido contínuo e está exposto a mudanças determinadas por fenômenos astronômicos! 

A Encíclica trata também de “eventos extremos" de natureza climática. O que é isso? Um evento extremo é um estado atmosférico momentâneo, não é clima! No clima, o que se considera é a média de tudo, e não apenas um momento extremo. 

“Eventos extremos” sempre ocorreram. A pior seca do Nordeste foi em 1877-1879. Na região metropolitana de São Paulo, segundo os pluviômetros, a década com maiores tempestades foi de 1941 a 1950. E a pior enchente que São Paulo já teve foi em janeiro de 1929! Nada tem a ver com o aquecimento global! 

O Prof. Molion também desmitificou outras frases soltas no documento que não se sabe de onde saíram, tais como o medo de descongelamento do permafrost (terra congelada no Ártico) e a liberação de quantidades catastróficas de gás metano por essa e outras vias. 

Também neste ponto, a Encíclica acolhe uma mistificação sem base na ciência. 

Segundo o expositor, em matéria de efeito estufa o documento papal está totalmente equivocado e deve ser completamente repensado em função dos conhecimentos básicos da física. 

Outra questão afirmada sem fundamento é a acidificação dos oceanos. Quanto ácido seria preciso para acidificar os oceanos? É inimaginável. 

Resumidamente, o professor concluiu: o clima varia por causas naturais; “eventos extremos” sempre ocorreram; o CO2 não controla o clima global e é o gás da vida; sem CO2 acabariam as plantas, os animais e os homens; sem energia, inclusive a nuclear, os países pobres não sairão da pobreza. Afirmou ainda que é muito preocupante o Papa defender na Encíclica uma governança mundial para se controlar as emissões de gás. 

Perplexidades ante a Encíclica

O autor deste artigo [foto abaixo] introduziu sua palestra lembrando que a Encíclica é um documento de grande autoridade magisterial dirigido a todo o orbe católico. 

Porém, a Laudato Si não se dirige só aos católicos, mas, segundo explicou o Prof. Alberto Gambino, da Universidade Europeia de Roma, “a todos os que têm sensibilidade pela [...] deterioração do meio ambiente”, crentes ou não. 

Esse caráter plurirreligioso e pluricultural ficou evidente na mesa que apresentou a Encíclica. Ao lado do Cardeal Peter Turkson estavam o metropolita cismático John Zizioulas; o prof. Hans Joachim Schellnhuber, ativista que veicula teses malthusianas das mais radicais; e a professora chinesa Carolyn Woo, presidente do Catholic Relief Services, agência internacional que financia ONGs opostas ao ensinamento católico, promovem o aborto e recrutam ativistas LGBT. 

A Encíclica reproduz também “ensinamentos” de fonte não católica, como os do sufi muçulmano Ali Al-Khawwas, apresentado como “mestre espiritual”. E, como contabilizou o Prof. Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Embrapa e doutor em Ecologia, ela emprega 74 vezes a palavra “natureza”, 55 vezes “meio ambiente” e uma só vez “Jesus Cristo”. 

Foi esclarecido para o auditório que o Papa recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo o dom da infalibilidade, dom cuja extensão ficou muito bem expressa em Pastoral coletiva dos bispos da Suíça de 10 de agosto de 1871 nos seguintes termos: 

“O Papa não é infalível nem como homem, nem como sábio, nem como sacerdote, nem como bispo, nem como príncipe temporal, nem como juiz, nem como legislador. Não é infalível nem impecável na sua vida e procedimento, nas suas vistas políticas, nas suas relações com os príncipes, nem mesmo no governo da Igreja. É única e exclusivamente infalível quando, como Doutor supremo da Igreja, pronuncia em matéria de fé ou de costumes uma decisão que deve ser aceita e tida como obrigatória por todos os fiéis” (Mons. Joseph Fessler, La vraie et la fausse infaillibilité des papes, Plon, Paris, 1873). 


Também foi observado que a Laudato Si contém três partes principais apoiadas umas nas outras. Sobre a primeira, de natureza científica, falou o Prof. Molion com toda autoridade e suma competência. 

Na segunda parte, a Encíclica correlaciona o estado do meio ambiente com reflexões de natureza econômica, social e política. É também um campo ao qual a infalibilidade do Papa não se estende. 

Na terceira parte, a Encíclica faz longas reflexões morais, filosóficas e religiosas com base nas duas primeiras partes. 

A segunda parte, econômica, social e política, suscitou inúmeras repercussões no mundo inteiro. 

Para Miguel Angel Belloso, diretor da revista espanhola “Actualidad Económica”, de Madri, falando como católico, o documento é a expressão de “um Papa pessimista e injusto”. Segundo ele, o Papa Francisco lança “ideias sem o acompanhamento de um único dado, como se fossem um dogma de fé, que não resistem à menor análise empírica e estão completamente erradas. [...] Francisco é um Papa decididamente político, um socialista convencido [...] Nesta desastrosa encíclica, Francisco [...] converteu-se num poderoso aliado das teses errôneas da esquerda” (“Diário de Noticias”, Lisboa, 26-6-2015, http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4645831&seccao=Miguel%20Angel%20Belloso&page=-1). 

No mesmo sentido o “Catholic Herald”, a mais antiga revista católica inglesa, estimou que “as análises de Francisco” ignoraram o “cenário de um incremento colossal da esperança de vida e da saúde como consequência do desenvolvimento econômico. E em muitas zonas do mundo, o ambiente está a melhorar espetacularmente” (“Diário de Noticias”, Lisboa, 26-6-2015), (http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4645831&seccao=Miguel%20Angel%20Belloso&page=-1). 

O Prof. Denis Lerrer Rosenfield, da UFRGS, observou que sob a governança mundial propiciada pela Laudato Si, “o Brasil deveria abdicar de sua soberania. [...] As ONGs ambientalistas e indigenistas são erigidas em novo poder mundial. A decisão última seria transferida para elas, contando, internamente, com a participação ativa — e decisiva — da CNBB e de seus órgãos, como a CPT e o Cimi. Ou seja, um país como o Brasil poderia perder ‘religiosamente’, ‘moralmente’, ‘ecologicamente’ e ‘socialmente’ a Amazônia” (“O Estado de S. Paulo”, 29-06-2015; http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-papa-e-a-amazonia,1715256.). 

O filósofo hebreu Guy Sormann concluiu seu artigo intitulado Vade retro perguntando: “O homem tem que se submeter à Natureza ou o inverso? O homem é um pecador quando não se prosterna diante da deusa Terra? Esta encíclica, parece-me, não é um manifesto político, mas uma bomba teológica” (“ABC de Sevilla”, 29-6-2015, http://sevilla.abc.es/historico-opinion/index.asp?ff=20150629&idn=1621396426193). 



Para o Prof. José Manuel Moreira, da Universidade de Aveiro, a “encíclica pró-verde” apresenta uma “preocupante mistura de slogans da esquerda radical”. E o “Investors Business Daily” conclui que “o Vaticano está infiltrado por seguidores de um movimento radical verde que é, no seu âmago, contrário ao Cristianismo” (“Sapo.pt”, Econômico, 02-07-2015; http://economico.sapo.pt/noticias/enciclica-proverde_222548.html). 

Na Argentina, o Prof. Roberto Cachanosky explicou que “a mensagem de Francisco deixa aberta a porta para o conflito social. [...] mal assessorado, ou talvez por ter uma ideologia peronista, Francisco incrementa a pobreza, a indigência e o desemprego. [...] Grande favor faria se denunciasse com firmeza os governos corruptos e autoritários que pululam na América Latina” (URGENTE24, 13-07-2015, http://www.urgente24.com/242049-%C2%BFy-quien-dijo-que-francisco-tiene-razon-una-deuda-del-pontifice ). 

Acrescentei que obviamente a Laudato Si também colheu aplausos de outros pontos do horizonte mundial, notadamente do macrocapitalismo publicitário, dos ambientes científicos alarmistas e das esquerdas em geral. 

A partir de Galileu, no século XVI, o ambiente científico repelia a opinião da Igreja sobre as ciências como sendo ingerência inquisitorial. Mas agora, segundo o “Estado de S. Paulo”, cientistas engajados no ambientalismo alarmista radical estão “dando ‘graças a Deus’ por ter uma figura carismática e forte como papa Francisco falando sobre assuntos que para eles nem sempre são tão fáceis” (edição de 15-6-15; http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/cientistas-contam-com-o-papa-para-falar-ao-coracao/). 

O ex-frade Leonardo Boff elogiou a Encíclica porque “nem a ONU produziu um texto desta natureza” e por pregar uma “ecologia integral [...] que supõe uma visão evolucionista do universo” (UNISINOS, 18-6-2015, http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/543662-ecologia-integral-a-grande-novidade-da-laudato-si-qnem-a-onu-produziu-um-texto-desta-natureza-entrevista-especial-com-leonardo-boff). 

Para Frei Betto, “o Papa faz eco à produção da Teologia da Libertação sobre a questão ambiental [...]. Ao citar Teilhard de Chardin, censurado pela Igreja enquanto viveu, o Papa [...] enfatiza que, em definitivo, a Igreja Católica abraça a teoria evolucionista e a visão holística do Universo” (Adital, 16-07-2015, http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85546) 

“Sem ânimo de desmerecer o discurso e o esforço de Jorge Mario Bergoglio”, Ignacio Denis Del Rosario, venezuelano graduado no Instituto Latinoamericano de Agroecologia Paulo Freire (IALA), disse que a encíclica nada acrescenta aos ensinamentos do “comandante” Fidel Castro desde os anos 60 e notadamente na Eco-92, no Rio de Janeiro. Ele auspiciou “uma complementariedade entre ambos, confiando plenamente na extraordinária coragem do Papa Francisco” (Aporrea, 01-07-2015, http://www.aporrea.org/internacionales/a210094.html ). 

Não espanta então que o líder do MST, João Pedro Stédile, tenha declarado à “Folha de S. Paulo”: “Os trabalhadores têm quem? Chávez morreu, Fidel está doente. O Francisco tem assumido esse papel de liderança, graças a Deus. Ele tem acertado todas” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/225544-eles-tem-obama-e-nos-temos-francisco-diz-stedile-em-santa-cruz.shtml).

O lobo vermelho ficou verde

Em resumo, lembrei que o astuto lobo vermelho comunista, que andava sumido e foi considerado morto, na realidade tingiu seus pelos de verde e retornou. Acolheram-no a “Teologia da Libertação”, a grande mídia e muitas ONGs, e ele infelizmente se infiltrou no Vaticano, onde tenta realizar seu tóxico sonho disfarçado de ambientalismo. 


Em face desse problema, nada me parece mais apropriado do que as palavras dirigidas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ao Papa Paulo VI, engajado no século passado numa política de aproximação com o comunismo vermelho: 
“De joelhos, fitando com veneração a figura de S.S. o Papa Paulo VI, nós lhe manifestamos toda a nossa fidelidade. Neste ato filial, dizemos ao Pastor dos Pastores: Nossa alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe” (“Folha de S. Paulo, 10-4-1974). 

Esta é a posição mais respeitosa e equilibrada diante do lobo vermelho que avança travestido de verde. 



Após os palestrantes responderem a numerosas perguntas, a sessão foi encerrada pelo Dr. Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Em seguida houve um animado coquetel, no qual os participantes tiveram ocasião de manifestar sua satisfação com as matérias expostas.











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