29 de novembro de 2016

Ditador Castro, apoio eclesiástico e mito murchado


Gonzalo Guimaraens (*) 

Sem os enigmáticos apoios eclesiásticos do mais alto nível — incluindo os três últimos Pontífices — o sanguinário ditador Castro e a revolução comunista cubana não teriam avançado além da Sierra Maestra e da província de Santiago de Cuba.

Sim, enigmáticos e gigantescos apoios eclesiásticos, iniciados pelo Arcebispo de Santiago de Cuba e Primaz da Igreja Católica em Cuba, monsenhor Pérez Serantes [foto], que em 1953 salvou a vida de Fidel Castro, após frustrado ataque guerrilheiro ao Quartel Moncada. Depois veio o apoio do Núncio Apostólico em Cuba durante os primeiros anos da revolução, monsenhor Cesare Sacchi, de tão triste memória. Em seguida, o do então secretário para Assuntos públicos da Igreja, monsenhor Casaroli, que após visitar Cuba chegou a dizer que os católicos cubanos “são felizes dentro do sistema socialista”. Houve ainda o livro-entrevista “Fidel e a Religião”; o Encontro Nacional Eclesiástico Cubano (ENEC), cujo documento final, com o aval do Vaticano, adiantou o diálogo e a colaboração com o comunismo para uma coincidência em suas próprias metas sócio-econômicas; e finalmente os pontífices João Paulo II, Bento XVI e Francisco I, que visitaram Cuba, apertaram efusivamente as mãos sangrentas do ditador e, direta ou indiretamente, deram-lhe seu apoio, evitando a derrubada do regime comunista, que já se prolonga por seis longas décadas.

A História política não absolverá o ditador. E, com todo o devido respeito, não se vislumbra como a História religiosa poderá absolver tão altos clérigos responsáveis pelo prolongamento do nefasto regime. 

A propósito das viagens dos três últimos pontífices a Cuba, suas palavras, seus gestos e realizações foram objeto de dezenas de artigos e vários livros bem documentados de cubanos desterrados, especialmente das análises respeitosas e firmes do ex-preso político Armando Valladares, uma das maiores figuras do exílio; artigos e livros que constam no website
www.cubdest.org  

Fidel Castro morreu na cama, sem pena nem glória. Durante anos já não mais usava seu uniforme militar, substituído por uma ordinária jaqueta Adidas. E do ponto de vista do marketing revolucionário, levou muito tempo, demasiado até, para morrer, o que contribuiu para que seu mito fosse murchando dia após dia. Isso se percebe em muitas das reportagens ditirâmbicas sobre o ditador, guardadas durante anos nas gavetas das redações de jornais, e que agora saíram à luz, enchendo páginas e mais páginas, nos meios eletrônicos ou em papel. Elas ficaram com o característico cheiro de mofo, rançoso e úmido, de gavetas mal ventiladas. Quando Castro morreu, os pró-castristas do mundo inteiro fizeram tudo o que puderam para reciclar o mito do “comandante”, mas a realidade está mostrando que esse mito murchou. 

Entretanto, são gigantescos os destroços espirituais e materiais que Castro e a revolução cubana produziram em Cuba, nas três Américas e no mundo inteiro. A descrição e enumeração de tais destroços mereceriam ser registradas em um Livro Negro da revolução castrista que, ao mesmo tempo, decifrasse o misterioso enigma da colaboração comuno-católica em Cuba. Aqueles que conseguirem explicar esse mistério da autodemolição católica fariam um bem imenso à Igreja e assinalado serviço à humanidade. E, sem dúvida, mereceriam um reconhecimento muito superior ao de um Prêmio Nobel.

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(*) Notas de “Destaque Internacional”. Documento de trabalho, em 27 de novembro de 2016. Este texto, traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode ser reproduzido livremente em qualquer mídia impressa ou eletrônica.

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