23 de dezembro de 2017

A noite entre todas sagrada

Nas pompas festivas da Missa do Galo, as famílias, os povos, as nações se sentiam ungidos pelo júbilo sacral descido do mais alto dos céus 


Plinio Corrêa de Oliveira (*)

O Advento, período que no ano litúrgico compreende as quatro semanas antecedentes ao Natal, constituía para a Cristandade uma parte do ano especialmente voltada para o recolhimento, para uma discreta compunção e para a esperança palpitante do grande júbilo que o nascimento do Messias trará. Todos se preparavam assim para acolher o Menino-Deus que, no virginal sacrário materno, se acercava, dia a dia mais, do momento bendito em que iniciaria sua convivência salvífica com os homens.  

Nessa atmosfera densa e vividamente religiosa, a tônica se ia gradualmente deslocando. À medida que se aproximava a noite entre todas sagrada, a compunção ia cedendo lugar à alegria. Até o momento em que, nas pompas festivas da Missa do Galo, as famílias, os povos, as nações se sentiam ungidos pelo júbilo sacral descido do mais alto dos céus; e em cada cidade, em cada lar, no interior de cada alma se difundia, como um bálsamo de celeste odor, a impressão de que o Príncipe da Paz, o Deus Forte, o Leão de Judá, o Emanuel, mais uma vez acabava de nascer. Stille Nacht, Heilige Nacht... a canção célebre que se transpôs para nosso vernáculo, de modo menos expressivo, como Noite Feliz.  
De toda essa preparação, o que restou? Do Advento, quem hoje cogita senão uma minoria ínfima? E dentro dessa minoria ínfima, quantos o fazem sob a influência da verdadeira teologia católica e tradicional, e não das teologias ambíguas e desvairadas que sacodem hoje em dia o mundo cristão, como se fossem convulsões de febre?

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Excertos do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, “No crepúsculo do sol de justiça”, publicado na “Folha de S. Paulo” em 1º-1-1979.

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