17 de março de 2024

COMBATIVIDADE E VIDA INTERIOR

Visão de Santo Inácio de Loyola de Cristo e Deus Padre em La Storta (detalhe) — Domenichino Zampieri (1581-1641). Coleção Particular, Londres.


  Plinio Corrêa de Oliveira

É de um catolicismo ardente, combativo, implacável, intransigente, completo que precisamos.

E precisamos também para os nossos católicos de uma vida profundamente imbuída de espírito de oração, profundamente voltada para o sobrenatural, para as verdades eternas, e não apenas de certo catolicismo que anda por aí sequioso de transigir com tudo, de fazer da Igreja uma instituição meramente humana, vivendo apenas dos esforços humanos e lutando com armas apenas humanas. 

Reunir em nós, ao mesmo tempo, a combatividade de um Santo Inácio de Loyola e a vida interior de uma Santa Teresa d’Ávila, eis aí um ideal certamente imenso, mas do qual nos devemos aproximar o mais possível. 

É preciso que desenvolvamos uma reação cada vez maior contra duas tendências incompletas, e, portanto, más, que existem em alguns dos nossos: 

1) a tendência de fazer da Igreja uma simples organizadora de novenas, inteiramente privada de qualquer intervenção positiva na vida social; 

2) considerar o Catolicismo principalmente como uma doutrina social, relegando a um plano inferior seu aspecto propriamente religioso e piedoso. 

O Catolicismo é, ao mesmo tempo, uma e outra coisa. E desde que perca um destes aspectos, passará a ser coisa alguma. Nunca a sociologia católica poderia ser aplicável, sem que a graça sobrenatural infundida através dos Sacramentos desse ao homem as forças necessárias para lhe purificar e elevar o caráter. Mais ainda: o homem nunca se conformaria com a austeridade inflexível de tal sociologia, nunca reconheceria a procedência de suas razões e de seus argumentos, se a graça não lhe viesse em auxílio, porque a eterna tendência do espírito humano será de considerar falsas as verdades incômodas.

Por outro lado, o Catolicismo será um mero passatempo de beatas, se não tivesse uma atuação real e vigorosa na vida social. Em uma palavra, a concepção exclusivamente piedosa do Catolicismo nos conduziria infalivelmente àquela piedade festeira e vã de nossos avós, que transformava as festas da Igreja em pretextos para divertimentos exclusivamente mundanos. 

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Excertos de uma carta de Plinio Corrêa de Oliveira a Alceu Amoroso Lima (pseudônimo: Tristão de Athayde), datada de 15 de outubro de 1932.

15 de março de 2024

Falar que o inferno está vazio não contradiz Jesus, que virá “julgar os vivos e os mortos”?

O Juízo Final (detalhe do Inferno) – Fra Angélico (1431). Museu de São Marcos, Florença, Itália

Pergunta Fiquei chocada quando li que o Papa Francisco tinha afirmado na TV italiana que achava, ou pelo menos desejava, que o inferno estivesse vazio. Fui falar com meu pároco, que se limitou a responder-me: “Se antes de conceber seu filho, você soubesse que ele passaria a eternidade no inferno, você ainda traria seu filho a este mundo?” Meio hesitante, eu disse que não. O padre me retrucou: “Se Deus deixa pessoas sofrendo eternamente no inferno, então Ele seria menos misericordioso que você”. Por minha vez, repeti-lhe que rezamos no Credo que Jesus virá, no fim do mundo, “julgar os vivos e os mortos”, mas que isso não teria sentido se algumas sentenças, pelo menos, não fossem de condenação. Confesso que fiquei perplexa.


Padre David Francisquini

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 878, Março/2023* 

RespostaArgumentos de algibeira, que exploram os sentimentos em lugar de fazer um raciocínio frio, são os que levam pessoas românticas a adotar vários pontos de vista errados: que o Deus do Novo Testamento não é o mesmo que o do Antigo, ou que o inferno não é eterno, ou mesmo que o inferno é apenas a aniquilação da alma (como insinuou o Papa Francisco em outra ocasião). Outro ponto de vista bastante popular é a afirmação de que o inferno existe, mas está ou ficará vazio.

Como essa é a questão da atualidade, deixarei para outra ocasião o assunto mais fundamental: por que Deus, infinitamente bom, manda os pecadores impenitentes para o inferno?

Uma primeira questão a resolver é semântica, ou seja, o significado da palavra portuguesa “inferno”. Porque no Evangelho lemos que, antes da Ressurreição, Nosso Senhor desceu aos infernos. Ora, como o Catecismo da Igreja Católica explica: “A morada dos mortos, a que Cristo morto desceu, é chamada pela Escritura os infernos, Sheol [em língua judaica] ou Hades [em grego], porque aqueles que aí se encontravam estavam privados da visão de Deus. Tal era o caso de todos os mortos, maus ou justos, enquanto esperavam o Redentor, o que não quer dizer que a sua sorte fosse idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro, recebido no ‘seio de Abraão’. [...] Jesus não desceu à mansão dos mortos para de lá libertar os condenados, nem para abolir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que O tinham precedido” (Catecismo da Igreja Católica, 633).

Portanto, nesse primeiro sentido, a palavra portuguesa “inferno”, ou seu plural “infernos”, designa apenas o lugar dos mortos, tanto justos quanto injustos. Mas ela também significa, em outro sentido, o lugar aonde irão parar os injustos impenitentes, para o qual Nosso Senhor empregava outra palavra judaica. Diz mais adiante o Catecismo: “Jesus fala muitas vezes da ‘gehena’ do ‘fogo que não se apaga’, reservada aos que recusam, até ao fim da vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se, ao mesmo tempo, a alma e o corpo. Jesus anuncia, em termos muitos severos, que ‘enviará os seus anjos que tirarão do seu Reino […] todos os que praticaram a iniquidade, e hão de lançá-los na fornalha ardente’ (Mt 13, 41-42), e sobre eles pronunciará a sentença: ‘afastai-vos de Mim, malditos. Ide para o fogo eterno’ (Mt 25, 41)” (Catecismo da Igreja \Católica 1034).

Por toda a eternidade e não apenas em um período

Gárgula representado demônio
mordendo o rosto de um condenado
(Catedral de Salisbury, Inglaterra
O que acontecerá com os “infernos”, no primeiro sentido de Mansão dos Mortos? Serão jogados no outro “Inferno”, a fornalha ardente. O livro do Apocalipse diz, a respeito do Fim do Mundo: “A morte e o Hades deram os mortos que estavam neles, e fez-se juízo de cada um segundo as suas obras. Depois, a morte e o Hades foram lançados no tanque de fogo (o tanque de fogo é a segunda morte). E aquele que se não achou inscrito no livro da vida, foi lançado no tanque de fogo (Ap 20, 13-15).

Então, a pergunta é se o “tanque de fogo” é eterno ou ficará vazio algum dia? Novamente, são as Escrituras que nos dão a resposta. O mesmo capítulo do Apocalipse diz:

“E o demônio, que os seduzia, foi metido no tanque de fogo e de enxofre, onde também a Besta e o falso profeta serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (Ap 20, 10).

Alguns alegam que “pelos séculos dos séculos” poderiam se referir a um período definido, e não a um estado eterno. No entanto, a discussão sobre o destino eterno de Satanás e seus sequazes está no contexto de uma contraposição com o destino dos justos, que certamente gozarão da visão beatífica por toda a eternidade, e não apenas em um período limitado.

No entanto, se essa consideração óbvia não for suficiente, o próprio Jesus responde à alegação. Lemos no Evangelho de São Lucas:

“Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, são poucos os que se salvam?’ Ele respondeu-lhes: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar, e não conseguirão. Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vós, estando fora, começareis a bater à porta, dizendo: ‘Senhor, abre-nos’, ele vos responderá: Não sei donde vós sois. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos em tua presença, tu ensinaste nas nossas praças’. Ele vos dirá: Não sei donde sois; apartai-vos de mim vós todos os que praticais a iniquidade. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob, e todos os profetas no reino de Deus, e vós serdes expulsos para fora” (Lc 13, 23-28).

Juízo Final, Catedral de Notre-Dame, Paris 

Jesus Cristo retribuirá cada um segundo as suas obras

São Gregório Magno e Santo Agostinho comentam que se o Inferno tivesse um termo, então o Céu também deveria ter um. Porque se a ameaça não é verdadeira, então a promessa também não o é. E se a “falsa ameaça” não tem outra finalidade senão afastar as pessoas do mal, então a “falsa promessa” não teria outra finalidade senão atrair os bons para o bem. Como ninguém pode aceitar essa segunda afirmação, logo é preciso rejeitar a primeira e repetir, com a Igreja, que o Inferno é realmente eterno.

Outros textos bíblicos poderiam ser examinados para mostrar que não será reaberta a porta àqueles que foram expulsos do Reino, mas convém dar uma olhada nos pronunciamentos do Magistério. Na época em que se realizou o IV Concílio de Latrão (1215), havia alguns que negavam a eternidade da condenação à ‘fornalha ardente’. Para corrigir isso, o maior dos concílios da Idade Média ratificou solenemente que “Ele [Jesus Cristo] virá no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos, para retribuir cada um segundo as suas obras, tanto aos réprobos quanto aos eleitos. Todos eles ressuscitarão com seus próprios corpos, que agora levam, para receberem de acordo com suas obras, sejam elas boas ou más; para os últimos, castigo perpétuo com o diabo; para os primeiros, glória eterna com Cristo” (Denz. 429).

O Inferno para os que morrem em pecado mortal

Seria necessária uma colossal ginástica verbal para conseguir que perpétuo (perpetuam em latim) signifique algo finito. Se juntarmos o que Jesus disse expressamente, que alguns não serão salvos, com que o Magistério disse, que a punição dos condenados será perpétua, a conclusão lógica e inevitável é que algumas pessoas realmente sofrerão punição perpétua, junto com o diabo. O que significa claramente que o “tanque de fogo” não estará vazio.

Alguém poderia objetar que o Catecismo da Igreja Católica ensina que “é na esperança que a Igreja pede que ‘todos os homens se salvem’ (1Tm 2, 4)” (parágrafo 1821). Mas há uma grande diferença entre pedir que todos se salvem e esperar que o Inferno esteja vazio. Nós devemos rezar e esperar que muitas pessoas se salvem, especialmente aquelas que nos são próximas. Mas essa esperança não pode apagar a convicção de fé expressa em outro parágrafo do mesmo Catecismo: “A doutrina da Igreja afirma a existência do Inferno e a sua eternidade. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente, após a morte, aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, ‘o fogo eterno’” (CIC 1035).

 

Tudo fazer para salvar nossas almas da condenação eterna

Um inferno vazio desvaloriza a religião católica e deprecia as palavras de nosso Divino Redentor, que nos alertou muitas vezes para evitá-lo. Se suas palavras são meras ameaças sem execução, por que se preocupar e levar uma vida correta, se ninguém está indo para lá? A esperança de que o inferno esteja vazio não é uma miragem inofensiva, porque ela afasta as pessoas de uma prática séria da fé e desestimula que as pessoas façam apostolado para encorajar os outros a emendar de vida, voltar-se para Deus e ir para o Céu.

Ironicamente, a esperança otimista de que o inferno esteja vazio contribui muito para ajudar a enchê-lo. Santo Afonso Maria de Ligório, em seu livro Preparação para a Morte, escreveu:

“Um autor erudito ensina que a misericórdia de Deus mergulha mais almas no inferno do que a sua justiça; porque os pecadores, confiando imprudentemente na misericórdia, não param de pecar e são condenados”.

O que isso significa para nós? Que devemos estar vigilantes quanto ao cuidado de nossas almas. Que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evangelizar as pessoas que nos rodeiam. Que devemos rezar muitas vezes a Nossa Senhora: “rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”. E a melhor maneira de fazê-lo é rezar diariamente o terço ou, melhor ainda, o rosário inteiro.

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6 de março de 2024

Triunfo da Cruz, desmoronamento do mundo pagão e Realeza de Nosso Senhor na Cristandade


Do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo resultou o esfacelamento dos deicidas, a ruína do mundo pagão e brotou a Cristandade em todo seu esplendor. Vitória do Redentor, confessado com o brado de ódio do imperador Juliano: “Vencestes, Galileu!”. O que comprova que a perseguição à Igreja não a destrói, mas a engrandece! 


Fonte: Editorial da e Revista Catolicismo, Nº 878, Março/2023* 

“O mundo há de meter-vos numa prensa, mas tende confiança, Eu venci o mundo” — disse Nosso Senhor Jesus Cristo aos Apóstolos essas palavras de vida eterna, que valem para todos nós, sobretudo nos momentos em que vacilamos em nossa fé e na certeza da vitória final da Igreja Católica Apostólica Romana.

O próprio imperador Juliano — o último do mundo romano, conhecido na história como “o Apóstata” — acabou confessando essa mesma verdade, quando bradou: “Vencestes, Galileu!”. Ele havia prometido exterminar os cristãos, mas derrotado numa batalha, após ser atingido por uma flecha, jogou seu sangue para o alto e lançou aquele brado de ódio, com o qual reconhecia a vitória d’Aquele que era chamado pelos fariseus de “o galileu, o filho do carpinteiro”. 

Foi o preciosíssimo Sangue de Nosso Divino Redentor que obteve o destroçamento dos deicidas, a derrota do mundo pagão, o nascimento da Cristandade. 

Sem o supremo sacrifico oferecido por Ele na Cruz, no alto do Calvário, o mundo continuaria pagão. Mas desejou que para a destruição do paganismo e a dilatação da Cristandade por todo o orbe, houvesse também o sacrifício dos apóstolos, dos discípulos, dos mártires, dos cruzados, dos santos, enfim, de todos os fiéis que derramaram seu sangue, de corpo ou de alma, em defesa da Fé Católica. Donde o célebre dito de Tertuliano: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. 

Deduzimos essas considerações da leitura dos trechos finais da excelente obra Jesus Cristo, Vida, Paixão e Triunfo, do Pe. Augustin Berthe, que são transcritos na matéria de capa desta edição. 

É esse muito elevado e belíssimo tema que propomos aos nossos leitores como meditação para os dias da Semana Santa. Desejamos a todos as mais escolhidas graças próprias ao período quaresmal e uma Santa e Feliz Páscoa! 
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1 de março de 2024

Bispo Strickland: “Estamos à beira de um precipício de devastação como o mundo nunca viu antes”

Dom Joseph Edward Strickland foi  bispo de Tyler (leste do Texas) de 2012 até 2023, quando foi, devido à sua posição conservadora, destituído pelo Papa Francisco.


O bispo emérito de Tyler, Joseph Strickland, que foi demitido pelo Papa Francisco [uma década] antes de completar 75 anos, publicou uma nova carta pública em seu site pessoal.

Strickland, que acaba de participar do evento político conservador mais importante do mundo, dirige esta carta aos bispos de todo o mundo. 

Na carta, o bispo americano encoraja o resto do episcopado mundial a regressar “a Cristo e ao seu caminho”, e encoraja-os a serem: 

“Ousados como os nossos predecessores do primeiro, segundo e terceiro séculos, muitos dos quais seguiram o Senhor até morte, carregando pesadas cruzes em seu nome. 
“Apoiemos os nossos irmãos, que no século XX foram suficientemente fortes para se manifestarem contra os governantes despóticos, embora fossem uma voz minoritária no seu tempo. No século XXI, sejamos vigorosos em conhecer e proclamar Jesus Cristo como a Luz do Mundo e o Senhor da Verdade. Proclamemos com profunda convicção a plenitude da mensagem de Jesus Cristo e resistamos a qualquer tentação de partilhar apenas a porção da Sua Verdade que o mundo aceita para evitar a ira de um mundo que ainda O odeia”.

O bispo emérito de Tyler enfatiza a necessidade de compartilhar: 

“A gloriosa Boa Nova de que Jesus Cristo é a Santa Palavra encarnada, e que a reverência pela Sua Palavra é a reverência pela Sua Presença real e sagrada entre nós, assim como Ele prometeu”. “Apelemos a um Reavivamento Eucarístico mundial que proclame com novas de grande alegria que Jesus Cristo está verdadeiramente presente — Corpo e Sangue, Alma e Divindade — na Sagrada Eucaristia em cada Missa, em cada sacrário e em cada altar de Adoração Eucarística ”. 

Além disso, Dom Strickland pede aos bispos de todo o mundo que sejam: 

“Firmes e claros em relação a todos os ensinamentos da nossa fé católica que falam da santidade da vida desde a concepção até a morte natural. A Noiva de Cristo proclama a verdade de que Deus nos criou homem e mulher. A Igreja, Corpo místico de Cristo, proclama a verdade de que o casamento é um vínculo sagrado entre um homem e uma mulher, comprometido com a vida e aberto aos filhos, e que este modelo ordenado por Deus guiará a humanidade até o fim dos tempos. Prometamos nunca deixar aqueles que foram apanhados em qualquer tipo de pecado sexual vagando nas trevas de um estilo de vida pecaminoso.”

Neste sentido, Dom Strickland exorta o episcopado a resistir: 

“Às correntes do nosso tempo que procuram criar um mundo à ‘nossa’ imagem e eliminar Deus do seu lugar no centro da sua criação. Resistamos às vozes que muitas vezes vêm de dentro da própria Igreja, que nos chamam a abandonar a verdade que Jesus Cristo proclamou e, em vez disso, tentam distorcer, alterar e atualizar esta verdade até que ela se torne irreconhecível e não mais enraizada na realidade.” 

Sem hesitação, Joseph Strickland encoraja-nos a: 

“Reconhecer que estamos à beira de um precipício de devastação como o mundo nunca viu antes”. Por isso, ele pede “abrir os olhos para as forças do mal que trazem divisão e escuridão, mesmo quando pretendem oferecer um novo caminho para a humanidade. Temos a audácia de dizer ‘não’ a estas tendências que procuram apagar Deus e aniquilar o nosso direito dado por Deus de escolher o bem e o mal em liberdade e autonomia pessoal. “Basta dizer ‘não’ àqueles de vocês que sussurram pelo destronamento de Deus e procuram instalar um Estado global em seu lugar”.
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Artigo traduzido do site espanhol Infovaticana (1º de março de 2024) por Hélio Viana.

26 de fevereiro de 2024

INOCÊNCIA — “sem a qual as coisas não seriam senão o que são”



✅  Plinio Corrêa de Oliveira

Quando menino, no Jardim da Luz da São Paulinho de antigamente, o que constituía um dos meus encantos eram os cisnes à beira do lago. Eles saíam de umas casinholas de porcelana e apareciam majestosos. Realizavam em mim um ideal: moverem-se sobre as águas sem fazer esforço. Eu não percebia que as patas deles faziam esforço, pois nunca fui bom observador nos aspectos “mecânicos” da natureza. 

Eu via o cisne leve, flutuando, gostando da água, mas se sentindo superior a ela, e aristocraticamente olhando a água de cima. De maneira tal, que se tinha a impressão de que da posição do pescoço — numa espécie de “S” sublime — se irradiavam todas as delícias do aristocratismo. 

Depois de contemplar os cisnes, aquela espécie de ápice das delícias do Jardim da Luz, eu voltava para casa considerando uma porção de coisas que dizem respeito à ordem universal vista sob certo ângulo. Era a natureza, mas vista com olhos de um inocente batizado.

Isso me conduzia ao desejo de certa super-inocência, de super-pureza, de super-virtude, que era o necessário para que tudo aquilo atraísse tanto. 

Claude Lorrain, um artista francês, gostava de pintar a luz do sol refletindo sobre as coisas. Às vezes, paredes manchadas, leprosas de tão velhas, mas com o sol batendo, aquelas manchas ficavam parecidas com pedras semi-preciosas enchendo a parede.

Há uma frase, esta de outro francês, o poeta Edmond Rostand, como que saudando o sol e dizendo: “Le soleil, sans lequel les choses ne seraient que ce qu'elles sont”. (O sol, sem o qual as coisas não seriam senão aquilo que são). 

Analogamente, poder-se-ia a fortiori assim saudar a inocência: “sans laquelle les choses ne seraient que ce qu'elles sont”. Ou seja, o mesmo jardim, visto por um menino sem inocência, que teria vontade de matar os passarinhos, de sair correndo para pegar um cisne, de quebrar a casinha dele, de promover brigas de uns com os outros, veria as coisas como elas são, sem as luzes do sol. 

Já um menino inocente via uma ordem de coisas como elas deveriam ser no que havia de melhor, apontando para o que elas deveriam ser de um modo superior.  

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 29 de agosto de 1992. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

21 de fevereiro de 2024

Morto prematuramente o maior opositor de Putin



  Paulo Roberto Campos 

Na Rússia putinista aconteceu o que todos os analistas políticos sérios receavam: a morte de Alexeï Anatolievitch Navalny [foto]. Certamente, não por causas naturais, mas foi morto. Tinha apenas 47 anos. Era o maior opositor do ditador comunista Vladimir Putin.

Ocorrido no último dia 16, o fato indignou boa parte do mundo, mas não surpreende aqueles que acompanham os acontecimentos na Rússia atual. Não é o primeiro caso e nem será o último morto em circunstâncias misteriosas e suspeitas. 

Navalny provavelmente seria eleito no lugar de Putin [foto] caso na Rússia houvesse eleições livres. Como se sabe, lá elas são inteiramente manipuladas pelo Kremlin, que segue com o mesmo histórico das “eleições” durante a triste era soviética. Na época da URSS, os candidatos do Partido Comunista sempre “venciam” as eleições aproximadamente com 90% dos votos... Quem dirá “me engana que eu gosto”? 

O mesmo ocorria com líderes comunistas de outros países, como em Cuba, onde Fidel Castro sempre foi reeleito com quase 100% dos votos. Por mais de 50 anos, ele foi praticamente candidato único... 


Os mesmos métodos tipo KGB 

Assim, sem Navalny como concorrente, nas eleições presidenciais do próximo dia 15 de março, o autocrata Putin, será novamente “reeleito” com os votos — dirá o Kremlin — da “imensa maioria”. Ele se perpetua no Poder com seu 5º mandato, ficando no comando, pelo menos, até 2030! 

Qualquer um que tenha apoio popular na Rússia, com real possibilidade de ser eleito e ousar candidatar-se será tirado do caminho, como ocorreu com Navalny, um mês antes do pleito. Já em 2018, quando se candidatou, fora impedido de concorrer, acusado de organizar manifestações contra o governo e de tentar depor Putin... 

Navalny, além de já ter sido preso algumas vezes por participar de protestos contra o déspota russo, sofrera alguns atentados. Em 2017, enquanto caminhava numa rua, foi atacado por agentes do serviço secreto com um spray que quase o deixou cego. Em 2020, num voo de Tomsk (Sibéria) a Moscou passou mal e teve de ser internado. Havia sido envenenado.

Temendo a morte, conseguiram levá-lo para a Alemanha, onde médicos especialistas do hospital militar de Berlim descobriram o tipo de veneno que usava a KGB, o letal tóxico Novichok. [foto]. Assim, puderam salvá-lo. Laboratórios alemães, franceses e suecos confirmaram o envenenamento por esse neurotóxico colocado na roupa de Navalny. 

É fabricado apenas por laboratórios muito avançados (na Rússia há alguns que forneciam para a KGB), afeta o sistema nervoso e leva a vítima à morte. Outras vítimas de Putin sofreram o mesmo tipo de envenenamento, mas não tiveram a mesma sorte, tiveram mortes atrozes. 


Eliminação dos concorrentes 

Navalny com a esposa Yulia Navalnaya

Depois de ter recuperado a saúde na Alemanha, em 2021 Navalny retornou à Rússia, mas logo ao desembarcar no aeroporto de Moscou foi preso, acusado de não ter respeitado a “liberdade condicional”. É o vale tudo para se eliminar os opositores do novo Tsar russo. Seu recado é claro: se algum outro concorrente surgir para sucedê-lo, terá a mesma sorte... 

Mesmo trancado no presídio, o prestígio de Navalny crescia. Era corajoso, carismático e popular, sobretudo entre os jovens, contava com milhões de seguidores nas redes sociais. Por meio de auxiliares, ele criticava a invasão russa na Ucrânia — o que na Rússia é considerado crime... 

Em 2022, numa das audiências no Tribunal, acusou Putin de iniciar uma “guerra estúpida, sem nenhum propósito ou significado”. Também criticava a enorme corrupção e a podridão do governo russo, por ele caracterizado como sendo composto por “vigaristas e ladrões”. 

Mais recentemente, ele anunciou uma campanha contra a reeleição de Putin nas eleições do próximo mês, mostrando que será uma eleição-farsa. O todo poderoso Putin, sentido seu trono ameaçado, mandou seu rival para bem longe a fim de ficar praticamente incomunicável. 

No final de dezembro passado, desapareceu da prisão de Vladimir (a 250 km de Moscou), e reapareceu dias depois numa prisão na Sibéria (a 2000 km da capital) para cumprir pena de 30 anos! 


Condenado sem ter praticado crime 

A mãe de Navalny, Liudmila Navalnaya [foto], o havia visitado naquele cárcere no dia 12 último e declarou que o filho estava bem de saúde e bem animado, apesar de estar em “Lobo Polar”, uma das prisões mais temidas do mundo, localizada na Sibéria, onde as temperaturas chegam a 42 graus abaixo de zero! Neste mês de fevereiro, o clima está ‘ameno’, mais ou menos 30 graus negativos... 

Conhecida também como IK-3, é uma prisão de segurança máxima na região de Yamalo-Nenets, no Ártico [foto abaixo]. Construída nos anos 60 num antigo campo de concentração da União Soviética, para onde eram mandados os dissidentes do regime comunista. Conta com 1000 detentos, os criminosos mais perigosos da Rússia, como assassinos em série, estupradores e pedófilos contumazes. 

Mas no caso de Navalny foi condenado sem ter praticado nenhum crime, mas suspeito de ter ajudado organizações para depor o ditador russo. Muitos achavam que ele ficaria naquela “colônia penal” pelo resto de sua vida, ou pelo resto da vida de Putin. 

Em isolamento total, lá os presos são proibidos de manter qualquer comunicação sob severas penas. Na primavera os presos sofrem pavorosamente com enxames de mosquitos; no inverno são forçados a ficar imóveis na neve, se um deles se move, todos recebem jatos de água gelada. 

As celas não têm janelas, em algumas o condenado só consegue ficar agachado. Não podem fazer caminhadas, a não ser dentro de uma pequena jaula uma vez por dia durante 90 minutos. Mesmo nestas condições, Navalny estava bem. Na véspera da morte, numa audiência, ele se apresentou saudável, sorrindo e bem humorado brincando com o juiz. 


Mortes não esclarecidas 

Navalny é o 9º opositor de Putin que morre de modo misterioso. Alguns morreram “caindo” das janelas ou sacadas de seus apartamentos... Ou foram defenestrados pelos agentes dos serviços secretos? 

Dezenas de jornalistas e políticos que fizeram oposição a Putin só tiveram uma alternativa para escapar da prisão e possivelmente da morte: fugiram da Rússia. Dos que ficaram alguns foram atropelados ou baleados “acidentalmente”, morreram em seus carros explodidos, envenenados com chá com polônio radioativo, outro teve o avião “implodido” [foto].

É o caso mais famoso do ano passado. O chefe do ‘Grupo Wagner’, Yevgeny Prigozhin, depois de décadas de serviços especiais prestados a Putin, foi acusado de traição e tramar um golpe de Estado. 

Assim são as coisas na Rússia putinista, e Navalny entra para mais um na lista de opositores de Putin que morreram misteriosamente. Lista extensa e negra de assassinatos encomendados pelo Kremlin, que nunca serão esclarecidos. Menos mal que várias autoridades do mundo ocidental responsabilizaram diretamente Putin pela morte de Navalny.

Realmente seria preciso muita ingenuidade para não se colocar a culpa em Putin. Já o presidente brasileiro [na foto com Putin], ao ser indagado, disse que esperará o resultado dos exames antes de se pronunciar. Mas aí não é por ingenuidade, mas para tentar salvar o ditador russo, assim como age em relação aos ditadores, como o de Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Forças policiais reprimindo manifestação pró Navalny

Um dia virá, a Rússia será verdadeiramente anticomunista 

No dia seguinte à morte de Navalny, familiares pediram seu corpo para o sepultamento, mas não obtiveram até esta data (21 de fevereiro). A própria mãe retornou à prisão no Ártico para ver o corpo do filho, mas não conseguiu, deram-lhe apenas um documento afirmando que Navalny morreu no dia 16 de fevereiro às 2:17 da tarde. 

No documento não há explicação da causa mortis... Tudo leva a crer que o Kremlin está ganhando tempo para encobrir as provas do assassinato. 

A viúva de Navalny, Yulia Navalnaya [foto com o esposo e filhos], que sequer pôde ver o corpo do marido no necrotério, acusou diretamente Putin de ter mandado envenenar o marido. Ela disse que o governo russo espera os vestígios do veneno ministrado desaparecerem do corpo para só depois entregá-lo à família. 

Em várias cidades russas as ruas foram tomadas por manifestações acusando Putin de ser o culpado por ter calado a principal voz da oposição. Mas elas foram duramente reprimidas pela polícia, que efetuou, até o momento, quase 500 prisões de manifestantes.

Mesmo com proibição policial, centenas de simpatizantes depositaram arranjos florais na “Pedra Solovetsky” — monumento às vítimas da repressão política, que fica em frente ao Kremlin, onde outro líder oposicionista foi morto em 2015. 

Flores vermelhas colocadas na neve bem simbolizam o sangue que se verterá em defesa de uma Rússia verdadeiramente anticomunista. Um dia virá!

15 de fevereiro de 2024

BRASILIDADE

Pau Brasil. O vermelho da madeira pode ser observado neste exemplar adulto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

✅  Plinio Corrêa de Oliveira

Entre brasileiros verdadeiramente católicos, apostólicos, romanos — assim como em qualquer outro povo quando é inteiramente católico — chega-se ao mais característico de sua pátria quando são católicos de modo autêntico. A religião católica faz com os caracteres nacionais de cada povo o que o verniz faz com a madeira. 

É muito diferente uma madeira envernizada da mesma madeira não envernizada. É também muito diferente o verniz quando ainda está no balde para ser usado e depois de usado na madeira. Ninguém, conhecendo só a madeira ou conhecendo só o verniz, poderia imaginar que a madeira envernizada ficasse tão bonita e nem que o verniz ficasse tão bonito sobre a madeira. 

Assim também se dá com a Religião Católica na alma de cada nação. O pau-brasil, por exemplo, só é inteiramente pau-brasil depois de bem envernizado. A madeira fica com todas as suas características e atinge toda a sua beleza depois de envernizada.

Deus criou a madeira para uso do homem e para que o homem fosse capaz de inventar vernizes e capaz de imaginar para a madeira uma forma de beleza que Deus queria. 

Desse modo é a Religião Católica com as várias nações. Para imaginar o ápice de cada uma delas, pensem nos grandes católicos que nela viveram. Porque aí é que o país aparece com toda a sua fisionomia. 


Para falar de nosso País: um Brasil “envernizado” é um Brasil católico, um Brasil verdadeiramente brasileiro. A brasilidade é algo por onde todos se sentem unidos, se sentem filhos da mesma Pátria. O elemento fundamental da brasilidade se faz de uma prodigiosa capacidade de intercambiar, de permutar, de influenciar e de receber influência. Por exemplo a influência portuguesa. Nós olhamos para a Torre de Belém [foto acima] e encontramos ali nossas ressonâncias e consonâncias. 

Antiga Câmara e Cadeia de Ouro Preto, outrora Vila Rica

Essa intercambiabilidade ajudou o brasileiro a ser suave como uma gota de azeite. O bom brasileiro tem a índole mansa e cordial, mas se for brutalizado, enguiça tudo.

A colonização portuguesa foi penetrando aqui com o “imperialismo do azeite”. Foi penetrando como o azeite numa folha de papel. Deita a gota de azeite, ele não rasga a folha, não dilacera, mas vai se estendendo. Assim foi o colonialismo de Portugal. Creio que não há uma ex-colônia tão amiga da ex-metrópole como Portugal e Brasil. 

É o dom dessa intercomunicação. É um modo especial de fazer as coisas, de ser, de arranjar. É um estilo brasileiro! O que mais dá felicidade a ele é procurar e encontrar afinidade. O bom brasileiro tem uma alma admirativa, por isso capaz de assimilar, porque de bom grado admira os outros. Olha para os outros sabendo reverenciar, prestar homenagem, admirar.

Quem admira, assimila e lucra. A alma do brasileiro é fundamentalmente admirativa. Esse gosto de ter afinidade na admiração, e de intercambiar, é o próprio bem-estar do brasileiro. É como ele se sente realizado. 

Isso forma o que o ambiente nacional tem para construir, com nota brasileira, num território novo, um mundo novo feito de contribuições de toda espécie de passados, para um futuro de síntese. Aqui está o Brasil autêntico. 

Profeta Joel (Aleijadinho),Congonhas do Campo

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 3 de novembro de 1979. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

9 de fevereiro de 2024

Não se deixem enganar pela “indústria bilionária do aborto”



✅  Paulo Roberto Campos 

Na última Walk for Life — [foto acima e no final] marcha contra o aborto, realizada em São Francisco (EUA) no dia 20 de janeiro —, Chrystal Neria, mais conhecida pelo nome artístico de Kaya Jones [fotos abaixo], ex-cantora, vocalista da banda musical The Pussycat Dolls, fez um comovente depoimento público sobre os abortos que fora obrigada a praticar. 

Profundamente arrependida, ela disse que, quando tinha apenas 16 anos, fez seu primeiro aborto e não contou aos pais, pois não precisava do consentimento deles. “Neste mundo estranho não há necessidade de tal consentimento para se matar um bebê”.

Perante a multidão reunida na manifestação antiaborto, ela prosseguiu: “Isso me prejudicou tanto que senti como se alguém tivesse arrancado uma parte de meu corpo [...]. Lembro-me de acordar e sentir como se eu tivesse perdido minha costela ou meu rim para sempre [...]. Gostaria de chorar junto à sepultura do meu bebê, mas ela não existe”

Três anos depois ela engravidou novamente, e, num período em que sua carreira de cantora decolava, disseram-lhe que deveria livrar-se do bebê se desejasse fazer carreira e ficar famosa. O mesmo aconteceu quando com 30 anos ela gestava o seu terceiro filho.

Por sua vez, Kaya Jones, atualmente com 40 anos, afirmou: “Venho de uma indústria que promove o aborto [...] Se você deseja ter um filho e quer ser uma artista e ter sucesso, eles forçam você a abortar. [...]Tenho um Grammy [2019], mas nada disso trará meus filhos de volta”, afirmou muito arrependida e carregando sua dor, pois “Eu sei que as pessoas desejam amenizar isso, mas sou mãe de crianças que foram mortas”. 

Enquanto foi uma Pussycat Dolls, com milhões de álbuns vendidos, a cantora afastou-se de Deus, mas depois que saiu da célebre e imoralíssima banda, retornou a Ele, começou a propagar sua fé e a declarar que nem a fama que teve apaga a dor por ter-se submetido a abortos. “Não importa quanto dinheiro você tenha, não importa quanta fama você possa ter, não importa quantos discos você possa vender. Nada disso trará meus filhos de volta”. 

A ex-estrela deseja agora usar sua voz a favor dos inocentes que não têm voz: os nascituros nos ventres maternos. E falar para as mães que abortaram que Deus pode perdoá-las se estiverem arrependidas. 

“Tive que passar por depressão grave, ansiedade e coisas que não quero falar. Há traumas mentais que surgem por causa dos abortamentos”. Muitas pesquisas revelam isso claramente, que a maioria das mulheres que fizeram aborto teria preferido dar à luz se tivessem recebido mais apoio de familiares e conhecidos, e que muitas delas foram forçadas a abortar seus bebês, mas nunca se esquecem deles. 


Rezemos para que a coragem dessa cantora ajude outras mães e salve a vida de muitos bebês condenados à morte em tantos e tantos países que, entretanto, têm leis que não permitem a pena de morte. Que as mães não se deixem enganar pela “indústria bilionária do aborto”, não se deixem explorar por inescrupulosos e pela escravização da “Revolução sexual”, que força a mulher a praticar o aborto.

7 de fevereiro de 2024

Retorno à caligrafia para não prejudicar a educação

Meninos praticam caligrafia em uma escola sueca. 

A total digitalização da atividade escolar contribui para criar o cenário perfeito de uma educação deplorável. Na Suécia, o retorno à escrita manual. 


  Luis Dufaur 

Diante dos estragos produzidos nas mentes infantis e juvenis pela dependência das telas LCD, escolas na Europa e nos EUA redescobrem o valor do contato pessoal, a importância da sala de aula, da memorização, da escrita, dos livros de papel e da própria caligrafia, noticiou o jornal “El Colombiano”.[1] 

Estudos, livros especializados e muitos testes científicos recomendaram a des-digitalização massiva das escolas. E ela já começou nos países nórdicos e pode tornar-se tendência em todo o mundo. 

Em países desenvolvidos, as crianças de famílias de baixa renda consomem quase o dobro de tecnologia do que as crianças de famílias de alta renda. Cunhou-se o termo “ciberproletariado”: uma massa de jovens minimamente capacitados, mentalmente desfavorecidos, rebaixados pelas escolas para a condição de novos servos pelo uso das tecnologias digitais. 

A ministra sueca da Educação, Lotta Edholm, insurgiu-se contra esse rebaixamento. Para ela, a digitalização das aulas foi um experimento acrítico, em que a tecnologia foi aceita sem levar em conta o conteúdo e o resultado. Por sua vez, as ciências mostraram que os efeitos foram tão danosos que chegou a hora de dar marcha-à-ré, porque os alunos recebem cada vez menos conhecimentos e têm uma queda intelectual e cerebral. Eles mal sabem ler, sua compreensão da leitura caiu vertiginosamente, a caligrafia foi perdida e, acima de tudo, a capacidade de manter a atenção. 

A Suécia desistiu da digitalização escolar e o governo deseja que a aula funcione como lugar de leitura e escrita. A tecnologia não será descartada, mas a solução para os problemas da educação consistirá em não abandonar os alunos diante de uma tela. 

“Des-digitalizar” é progresso 

Ministra sueca da Educação,
 Lotta Edholm
 
Pesquisadores e educadores apalpam essa queda e veem com preocupação a geração que, segundo a UNICEF, cresceu sem conhecer a vida antes do smartphone e desanimou da leitura. As mudanças com a digitalização em todos os níveis deterioraram o QI dessa geração. 

Os dispositivos digitais são poderosos e, se utilizados de modo exclusivo ou abusivo, exibem um sem-número de efeitos deseducativos e mentais danosos. Acresce que a juventude está entrando na era da ‘Inteligência Artificial’, cheia de riscos, que nem os adultos conseguem mensurar. Os especialistas recomendam que as crianças tenham acesso à tecnologia só após aprenderem a ler e escrever com fluência. De fato, o que faria um jovem que precisa escrever de próprio punho uma mensagem, mas que só pode digitar? 

Os cientistas constatam que em países como os EUA há milhares de escolas públicas para crianças carentes saturadas de tecnologia, nas quais se diminuiu a importância dos professores. Resultado: estes ficaram pouco qualificados, com baixos salários e em escasso número. 

Restaurar o ensino tradicional é o futuro 

A cultura medieval empregava muito
 os desenhos como parte da caligrafia
Formou-se o cenário perfeito para uma educação deplorável, resultado da ausência do relacionamento entre uma pessoa qualificada — o professor — e o aluno, exaltada desde a Antiguidade pelos mestres na Grécia, por exemplo. Um grande promotor da digitalização, Steve Jobs, fundador da Apple, confessou em 2001, em um relatório intitulado “A sala de aula do futuro”: “Eu trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”. 

Se se procura uma cultura democrática, esta não pode depender de um algoritmo, método ideal para uma ditadura de Science-fiction, mas dos valores e conhecimentos que o mestre transmite aos discípulos.

Em 2023, 100 escolas públicas de Seattle (EUA) e 50 mil alunos processaram empresas de tecnologia por danos à saúde mental causados por aplicativos como TikTok, Instagram, Facebook, SnapChat ou YouTube. Restaurar a educação clássica é a maior urgência. 

A ministra da Educação da Suécia foi apoiada pela ministra da Cultura, e os partidos conservadores aceitam a “mudança de paradigma”, ainda que num país como a Suécia isso possa parecer retrógrado. Os políticos pensam na reação positiva dos pais de família, preocupados com a queda cultural das crianças. 

A História registra a importância da leitura da escrita na idade infantil. Os textos cuneiformes sumérios de 2.500 anos atrás insistiam em que os alunos requintassem a caligrafia. As escolas sumérias tinham um “encarregado do chicote” para aqueles que não cultivassem na perfeição a arte da escrita. Um grande educador e teólogo, o Pe. Henri Ramière SJ, fiel ao estilo que elevou a Companhia de Jesus a um patamar educativo superior, exigia dos alunos uma redação pessoal primorosa de apenas uma página, não só sem erros de ortografia ou gramática, mas com perfeição caligráfica, sem manchas, borrões ou outras imperfeições.[2] 

Progressistas contra a ciência 

Os opositores da restauração não gostam que as evidências científicas reprovem a digitalização das aulas. É fácil encontrar estudos de pediatria, neurociência e psicologia alertando para os danos do uso excessivo de tecnologias digitais. A ira modernista foi contra o fato de o governo se apoiar em “evidências científicas”. Quando a ciência se posiciona contra as utopias esquerdistas, vituperam a ciência, como registrou Critical Studies of Education & Technology.[3] 

A mentalidade ‘moderna’, revoltada contra as ciências, reclama uma liberdade irrestrita para os alunos navegarem no mundo digital, mas pouco se importam com a educação dos jovens. 

Confirmação de professor português 

O português Prof. Antonio Duarte[4] ressaltou que em 15 anos as aptidões intelectuais dos alunos suecos diminuíram, a dependência da informação pronta na Internet lhes tirou a vontade de pensar, e ficaram cada vez mais incapazes de se exprimir, enquanto enfraquecia a leitura. 

As ministras suecas da Educação e da Cultura anunciaram o retorno ao ensino baseado nos livros, e pensam em dispensar os computadores e tablets. O desenvolvimento cerebral e a habilidade manual são essenciais, mas se ficam inibidos pelas telas LCD estaremos voltando às cavernas, iluminadas, é claro, pelos reflexos das telas acesas. 

É indispensável a avaliação rigorosa, isenta, honesta, que o mestre faz da experiência pedagógica de cada aluno, não jogando nossas crianças e jovens num sistema que não tem dado bons resultados e caminha para um desastre civilizacional. Para isso, a Suécia investe R$ 315 milhões em livros, observou “O Estado de S. Paulo”.[5] 

O mencionado jornal acrescentou que, segundo a ministra Lotta Edholm, “novas descobertas na ciência cognitiva mostram que os alunos aprendem mais quando leem em um livro do que em um tablet”. Segundo ela, professores e alunos gostaram da decisão: “As respostas são muito positivas. Ter livros é quase visto como um luxo e, mais do que tudo, muitos pais aceitam a mudança”

Em maio de 2023 a avaliação global PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), mediu a capacidade dos alunos do 4º ano do ensino fundamental para a leitura e intelecção de textos em 57 países. A Suécia ficou na 13ª posição, e o Brasil, dói dizê-lo, ficou à frente só do Irã, da Jordânia, do Egito da e África do Sul. 

O governo de São Paulo tinha um plano de mandar imprimir 10 milhões de livros didáticos, que seriam distribuídos gratuitamente. A repercussão foi tão negativa que o governo mudou de ideia. 

Equilíbrio entre letra e imagem

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que foi catedrático da PUC, defendia o equilíbrio entre caligrafia e imagem. Ele dava como exemplo as iluminuras nos livros e pergaminhos medievais. A letra capitular poderia ter um passarinho cantando, uma flor, uma cena da vida quotidiana etc. A cultura medieval empregava muito os desenhos como parte da caligrafia. Essa harmonização, no aprendizado, da letra e da contemplação da imagem, agradava muito e foi se aprimorando com o tempo, formando uma geração que forjou a civilização ocidental cristã. 
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Notas: 
1.http://surl.li/lhebc 
2.http://surl.li/lhecl 
3.http://surl.li/lhedk 
4.http://surl.li/lheea 
5.http://surl.li/lheeu