30 de janeiro de 2015

Mães católicas, coelhas?!

“Uma das obras-primas de Deus é o coração de uma mãe” (Provérbio francês)
Após a publicação da carta da Sra. Mónica C. Ars (vide post anterior) segue outra missiva (esta da Sra. Patricia Medina, que foi publicada em diversos sites e blogs) também a respeito da crítica às famílias com proles numerosas — uma especial benção de Deus. 


Carta ao Papa — "aquele que deveria nos confirmar na fé e nos apoiar" 

Patricia Medina

Fui abençoada com seis filhos. Filhos que tive por seis partos cesáreas. Meus partos cesáreas nunca foram por comodidade ou por medo da dor do parto natural. Pelo contrário. Sempre desejei dar à luz naturalmente, mas meu primeiro filho entrou em sofrimento fetal após 13 horas de trabalho de parto. Mecônio e sangue fizeram com que o nascimento dele fosse uma emergência médica e a cesariana, inevitável para salvar a vida dele. Graças a Deus dei à luz num tempo onde a cirurgia cesariana foi uma opção. Apenas algumas décadas antes, estaríamos mortos, eu e meu filho. Apesar de um APGAR inicial bastante baixo, meu primogênito se recuperou e hoje é um rapaz inteligente, caseiro, bom filho.

Infelizmente, no Brasil, a prática médica do VBAC ainda é desencorajada. Nestas terras tupiniquins ainda reza o refrão: “Uma vez cesárea, sempre cesárea”. E assim, sem qualquer culpa da minha parte, tive seis partos cesáreas. Apesar de não ter tido a dor natural do parto, ofereci a Deus o sofrimento do pós-parto, que pode ser bastante longo e doloroso. 

Tive médicos bons e responsáveis. Médicos que me asseguraram que eu poderia continuar a ter filhos, apesar do número de cesáreas. Conheço mesmo mães que tem mais de uma dezena de filhos por esta via. Enfim, fui abençoada seis vezes. Sete, se contar uma gestação que não foi adiante. Enfrento, diariamente, a curiosidade, o desrespeito, as gozações, os cochichos e os comentários de tanta gente que, só pelo fato de eu ter seis filhos, acham que tem o direito adquirido de dar a sua opinião a respeito daquilo que é tão sagrado para mim! Coleciono anedotas de sobra! Já fui parada na rua e perguntada se eu “não me importava com o meio ambiente”. Já riram de mim, dezenas de vezes, ao perguntar se eu não tinha televisão em casa (a propósito, não! Não temos! Graças a Deus!), se eu sabia o que causava a gravidez, se eu não tinha algum hobbie. E tudo isso, falado inconvenientemente, sem pudor, na frente dos meus filhos pequenos! Já ouvi que sou ignorante, que sou irresponsável, já tive que dar explicações financeiras a estranhos, nossa família é frequentemente olhada com desdém. Já tive um médico que sugeriu, discretamente, que eu abortasse minha terceira filha por ser “perigoso”. Perguntam sempre ao meu marido se os seis filhos dele são “da mesma mulher”

Certa vez, quando estávamos debaixo de chuva com bebê de colo e precisando de um táxi, muitos taxistas passavam com seus carros vazios e nos faziam sinal com as mãos, gesticulando que éramos gente demais. Gente demais…. Pode o céu ser povoado demais? 

Enfim, sempre aguentamos as críticas, eventualmente intercaladas com algum elogio aqui e ali. Os elogios que exaltam a minha suposta coragem nunca foram o nosso apoio para o sacrifício de ter muitos filhos. A opinião das pessoas, sejam elogiosas ou desabonadoras, são irrelevantes. Nosso foco, meu e do meu marido, sempre foi Nosso Senhor. Sempre foi fazer a vontade de Deus. E fazer a vontade de Deus na finalidade própria do matrimônio: a procriação dos filhos. Apesar da sociedade anticristã. Apesar do custo. Apesar do mundo! E agora, temo dizer: apesar do Papa! 

Nesses anos todos, e lá se vão 17 anos de casamento, nunca tinha escutado a pérola que o Bispo de Roma dirigiu às mães de famílias numerosas: coelhas! Sua Santidade foi, e digo isso com dor no coração, vulgar! Sim, vulgar! Jamais ousaria comparar uma senhora, esposa e mãe católica, a um animal irracional. E a um coelho! Pense na reação de pais de família se por ventura fossem comparados a asnos, por trabalharem demais. Ou se pobres, moradores de rua, fossem chamados de ratos por viverem maltrapilhos. Ou se se comparassem pacientes em coma a bichos preguiça? Preciso continuar? A comparação é vulgar e denigre o alvo das críticas. É um desrespeito. É, pura e simplesmente, falta de caridade! 

Além disso, o Papa, aquele que deveria nos confirmar na fé, aquele que deveria nos apoiar, nos defender, acabou de jogar as mães e pais de famílias numerosas aos leões! Meu marido acaba de me falar que amanhã, no trabalho, vão lhe questionar sobre as palavras do Papa. Evidentemente, os neoconservadores, aquele tipo de católico aparentemente esclarecidíssimo, obedientíssimo, fidelíssimo, porém covarde e cheio de respeito humano, vão defender as palavras de Sua Santidade com alguma ginástica mental afirmando que a mídia distorceu suas palavras, que tiraram de contexto o que ele disse, que ele disse “coelhas” no melhor sentido possível. Talvez digam que sim, são irresponsáveis as mulheres que tem muitos filhos. E se sentirão obedientíssimos, fidelíssimos, esclarecidíssimos! 

No entanto, eu, meu marido, meus seis filhos, não vamos defendê-lo. Vamos defender aquilo que a Igreja sempre ensinou. Jamais darei piruetas intelectuais para desculpar publicamente Pedro quando ele agredir aquilo que sempre foi verdadeiro e santo! Prefiro olhar pro céu a enfiar a minha cabeça num buraco! 

Num dos comentários, ele ainda citou a cifra duvidosa de especialistas que afirmaria que o ideal é “três por família”. Disse ainda que a Igreja dá muitos “meios lícitos para limitar a procriação”. Usou o exemplo de uma mãe que está grávida do 8º filho, tendo tido sete cesáreas. Ela seria irresponsável. “Ela quer deixar os sete filhos órfãos?”, perguntou o Papa. O que ele sugere agora que o filho já está na barriga? Só eu vejo as implicações dessa fala perigosa do Bispo de Roma? Sua Santidade não sabe o que fez. Nos jogou aos leões da ONU, na NOM, da maçonaria. Aqueles, sabem?!, que nos rodeiam procurando nos devorar… 

Mas tenho algo a dizer às tantas mães de famílias numerosas (muitas amigas minhas, companheiras da Capela, cujos abençoados bancos mal comportam tantas famílias com 3, 4, 5, 6, 7, 10 filhos!), às mães discriminadas por terem tido partos cesáreas múltiplos, às mães que têm filhos apesar da contestação da família, da sociedade e, lamentavelmente, de setores liberais da Igreja: “Corramos ao abraço da cruz! Tantas mulheres cristãs foram entregues aos leões. Não sejamos nós a fugir da cruz! Adiante! Povoemos esta Terra com santos sacerdotes, pais e mães de família cristãs, e o céu com santos”. O céu é o prêmio, já dizia Santa Teresinha. 

E rezemos pelo Papa. Ele não sabe o que fez. 
Em Cristo, 
Patricia Medina

29 de janeiro de 2015

Meus filhos, fruto de uma tentação a Deus?

No post anterior (Família numerosa — uma bênção de Deus) prometi publicar duas cartas nas quais as missivistas manifestam perplexidade face às recentes e infelizes declarações sobre as famílias que procriam “como coelhos”. Abaixo segue a carta da Sra. Mónica C. Ars e no próximo post seguirá a carta da Sra. Patrícia Medina — com ambas concordo em gênero, número e grau. 

Meus filhos, fruto de uma tentação a Deus?

Mónica C. Ars 
"Adelante la Fe", 20-1-2015 
Tradução de Hélio Dias Viana 

Não sei se cada dia estou mais atônita, indignada, entristecida... Faz tempo que não sei como qualificar meu estado de ânimo. Mas o que sim, posso assegurar, é que ontem foi uma jornada negra, dessas que recordarei durante muito tempo. Jamais pensei que poderia chegar a sentir-me desprezada pelo Santo Padre, e, entretanto, foi assim. Que não era essa a sua intenção, creio que não. Mas que foi esse o resultado, sim, foi. 

Suponho que os leitores de Adelantelafe saberão a razão. Jamais escondi que sou mãe de cinco filhos maravilhosos. Sempre os considerei minha “coroa”, meus presentes de Deus, minhas bênçãos. Eu os tenho exibido com orgulho, não por considerá-los meus (pois não são), mas porque sempre os senti como presentes de Deus, confiados a nós (os pais) para os devolver algum dia. 

Entendi há tempo que os filhos não são fruto da decisão dos pais, mas de Deus. “Antes de que estivesses no ventre materno, eu já te conhecia”, assim diz o Senhor. Todos estivemos na mente de Deus desde a Eternidade, por isso nenhuma criança é um erro para Deus. O contrário do que nos quer convencer agora esta sociedade egoísta. Pode acontecer de um nascimento não se dar nas melhores circunstâncias, mas “erro”, jamais. “Deus sempre escreve certo com linhas tortas”, diz-se. 

Nós cristãos defendemos a vida como resultado da vontade de Deus. Por isso, defendemo-la quando aos olhos do mundo ela é indefensável: no caso de violações, no caso de malformações, no caso de perigo para a mãe durante a gravidez... Somos escândalo para o mundo porque, para nós, todo filho é uma bênção de Deus. 

Daí meu estupor quando ouvi as infelizes palavras do Santo Padre: “Há os que creem que para sermos bons católicos devemos ser – perdoem-me a expressão – como coelhos”. 

Santo Padre, era realmente necessária essa expressão? O senhor conhecia a carga significativa que ela tinha, de fato pediu perdão antes de usá-la. E eu me pergunto: ter muitos filhos é agir “como coelhos”? Pensamos que o Santo Padre quis dizer (já começo com interpretações) que os coelhos não têm vontade para engendrar, que simplesmente atuam segundo critérios da Natureza. Muito bem, talvez quis dizer isso. Mas não deixa de surpreender-me que o ato de conceber um filho se “animalizara” de tal forma. Porque a alma humana tem um valor infinito para Deus. E toda alma humana é única, de valor incalculável. Coelhos? Santo Padre, não. O mundo pensa isso, o cristão, não.

O cristão não deve fazer “filhos em série” – continuou [o Papa Francisco] ontem no avião. 

Que duras palavras! Uma coisa feita em série é algo que carece de valor, porque não é única. Supõe também uma automatização onde não intervém a vontade, a criatividade, o engenho humano; agir como robôs, sem consciência alguma do que está fazendo. “Filhos em série...”

Meus filhos foram feitos em série? Não são únicos para Deus? Dou menor valor ao primeiro pelo fato de ter tido mais? O quinto não é uma bênção de Deus? É um número de série?

Este tipo de expressões eu as ouvi demasiadas vezes na ONU, quando se defende o aborto. Começa-se por coisificar (animalizar) o ser humano e acaba-se defendendo o indefensável. 

Mas o Santo Padre continuou falando... e comenta que repreendeu uma mãe que estava grávida do oitavo filho, porque tinha sofrido sete cesarianas. “O que quer, deixar órfãos seus filhos? Isso é tentar a Deus!”. 

Santo Padre, o senhor sempre disse que o pastor precisa ter cheiro de ovelha. Tem que estar próximo delas, conhecê-las, sofrer com elas. Se fosse assim, jamais teria repreendido essa mãe. Eu sofri cinco cesarianas. E o mundo me crucificou. Muito. Mas, ao meu marido, ainda mais. 

Para o mundo, como sou cristã, perdi minha capacidade de decisão e atuo como uma autômata. Deixo-me simplesmente engravidar. E meus filhos, que aguentem! 

Santo Padre, que injusto! Tenho também que ouvi-lo do senhor? Meu pai espiritual? 

Meu marido e eu somos muito conscientes do que fazemos. Meus filhos, também. Cada gravidez que sofri a partir do terceiro, supôs um enorme susto para nós. Não sou um autômata incapaz de pensar. Oxalá fosse! O problema é que, para alguns casais, Deus tem vontade própria. Por mais que o senhor diga que conhece muitos métodos (de verdade?, não naturais?) para evitar uma gravidez, não são métodos infalíveis, menos ainda para alguns casais. 

Precisamente, se a Igreja permite os métodos naturais, é porque sempre se deixa a porta aberta para Deus. E... surpresa, surpresa (porque Deus sempre surpreende), por alguma “estranha” razão, Deus manda filhos a quem coloca sua confiança n’Ele. 

Meu quarto e meu quinto filhos não foram programados. Tampouco são filhos em série. E menos ainda foram fruto do nosso tentar a Deus. Ou sim? Escutamos os ensinamentos da Igreja e, apesar das ENORMES pressões que recebemos (inclusive dentro da própria Igreja) para usar métodos não naturais, apesar do perigo para a minha saúde, pusemos a nossa confiança n’Ele. Que passo mais terrível! Quão duro é!

Como se pode acusar um casal de querer deixar órfãos seus filhos? Eu mesma ouvi essa frase da boca de muita gente. E dói! Como pode [o senhor] acusar tão duramente essa mãe? Eu não quero deixar órfãos meus filhos! Ninguém quer! Mas... creio em Deus. Creio em sua vontade. E confio n’Ele. Inclusive às custas de minha própria vida. Não o disse o próprio Jesus: “Não há ninguém mais feliz do que quem da a vida por um amigo”? Por acaso isso não é transferível aos filhos?

Cada dia de minhas últimas gravidezes fui consciente de que podia ser o derradeiro. Meu marido, também. Não me subestime pensando que sou uma autômata submetida a uma religião sem fundamento. Se tivesse escutado essa mãe, teria ouvido a sua luta diária para continuar confiando em Deus. No duro que é. No difícil que é. Sobretudo num mundo onde é tão fácil ir a uma farmácia e solicitar um contraceptivo. Não necessitamos de sua recriminação (o mundo já no-la dá), necessitamos de seu apoio. Porque é uma decisão difícil, diária, que pesa. 


E sabe? Meu quarto filho nasceu em dezembro. No dia do parto eu havia me preparado. Tinha me confessado e ido à missa com meu marido. Quando me levaram de maca para a sala de partos, apareceu um coro de crianças. Tinham ido ao hospital cantar villancicos [músicas natalinas] para os pacientes. Fizeram um corredor e cantaram... Sim, cantaram! Depois, desceram até a sala de partos, e os médicos abriram as portas para que eu pudesse escutá-los. Meu filho nasceu às 12 (hora do Angelus) sob os cânticos “Nasceu Emanuel”. A enfermeira (que absolutamente não me conhecia), quando o colheu nos braços, emocionou-se e sussurrou ao meu ouvido: “Na verdade, este é um presente de Deus”. E estou de acordo com ela. Meu quinto filho também é de dezembro. E sabe? “Curiosamente”, também recebeu as canções das crianças. Eu sobrenaturalizei os meus partos. Maria esteve presente neles. Senti a comunhão dos Santos... Por favor, não lhes tire a sobrenaturalidade. O mundo já o faz. 

Maria tentou a Deus? Se tivesse escutado o mundo, Jesus não teria nascido. Mas depositou sua confiança em Deus. Confiou. Foi generosa. 

Finalmente, um apontamento. Meus filhos sabiam do perigo que eu corria. Nunca o escondi. Rezaram por mim e pelos seus irmãozinhos. E, neste verão, quando fomos a Lourdes para agradecer a Maria pelo parto sem incidentes, sabe o que meu filho mais velho pediu? Outro irmãozinho! 

Creio que uma criança pode nos ensinar muito. Meu filho ensinou-me generosidade. E valor. Santo Padre, escute as suas ovelhas, por favor, porque nos sentimos perdidas. Que queira ir atrás das que estão fora do redil, fenomenal!, mas não se esqueça das que estamos dentro. Talvez, agora mais do que nunca, estejamos necessitadas de um bom pastor. 

27 de janeiro de 2015

Família numerosa — uma bênção de Deus


As famílias abençoadas por uma prole numerosa robustecem os laços matrimonias e cada filho é uma alegria a mais para os pais, irmãos e parentes, sobretudo um sorriso e um presente de Deus para a Família 

Paulo Roberto Campos

A crítica às famílias que procriam “como coelhos” foi difundida largamente pela mídia do mundo inteiro e causou enorme perplexidade, até mesmo consternação, nas famílias católicas que procuram manter fidelidade ao ensinamento tradicional da Igreja. Tal critica doeu mais profundamente por ser pronunciada por uma pessoa a quem se deve todo respeito, mas da qual as famílias esperavam apoio, e não censura. Apoio por não serem do tipo de família moderna que deposita no prazer egoístico da vida o bem supremo e acham que os filhos constituem obstáculo para o gozo da vida. 


A esse propósito convém recordar que em nossos dias a revolução antinatalista — levada a cabo por muitos governos e atuando sobretudo através dos grandes meios de comunicação — promove a constituição da “família nuclear” (com apenas 1 ou 2 filhos, ou nenhum) e procura denegrir a família tradicional, que se poderia denominar “patriarcal”, com numerosa prole, num intenso convívio com a parentela. 

Contrária à prole numerosa, a propaganda revolucionária antifamília incentiva o planejamento familiar, a limitação da natalidade, a utilização de contraceptivos, pílulas abortivas, esterilização cirúrgica, aborto etc. E tem obtido o desastroso resultado revelado por pesquisas em numerosos países, inclusive no Brasil: o rápido envelhecimento da população, devido à baixa taxa de natalidade. 

Com o objetivo de auxiliar as abençoadas famílias numerosas a se manterem firmes na Fé e sempre devotadas aos valores morais, ofereço a elas as considerações abaixo, concernentes à maravilhosa bênção que elas representam para as famílias, para a sociedade em geral e para as nações e o quanto elas são especialmente amadas e protegidas por Deus. 

O primeiro texto (que segue) foi extraído do livro Nobreza e
elites tradicionais análogas [foto], publicado em 1993, de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira. 

Mas, desenvolvendo o mesmo assunto, em próximos posts publicarei mais três textos: uma carta da Sra. Patrícia Medina e outra da Sra. Mónica C. Ars  ambas são mães de famílias justamente indignadas com a crítica acima mencionada — e, encerrando esta série, um magnífico discurso do Papa Pio XII sobre como as famílias numerosas são dignas de muita admiração. Aguardem! 



No indivíduo e na família, os fatores mais essenciais do bem comum dos grupos intermediários, da região e do Estado — a família fecunda, um pequeno mundo 

“A experiência demonstra que habitualmente a vitalidade e a unidade de uma família estão em relação natural com a sua fecundidade. 
Quando a prole é numerosa, ela vê o pai e a mãe como dirigentes de uma coletividade humana ponderável pelo número dos que a compõem como — normalmente — pelos apreciáveis valores religiosos, morais, culturais e materiais inerentes à célula familiar. O que nimba de prestígio a autoridade paterna e materna. E, sendo os pais de algum modo um bem comum de todos os filhos, é normal que nenhum destes pretenda absorver todas as atenções e todo o afeto dos pais, instrumentalizando-os para o seu mero bem individual. O ciúme entre irmãos encontra terreno pouco propício nas famílias numerosas. O que, pelo contrário, facilmente pode surgir nas famílias com poucos filhos. 
Também nestas últimas se estabelece não raras vezes uma tensão pais-filhos, em resultado da qual um dos dois lados tende a vencer o outro e a tiranizá-lo. 
Os pais por exemplo podem abusar da autoridade, subtraindo-se ao convívio do lar para utilizar todo o tempo disponível nas distrações da vida mundana, deixando os filhos relegados aos cuidados mercenários de baby-sitters ou dispersos no caos de tantos internatos turbulentos e vazios de legítima sensibilidade afetiva. 
E podem tiranizá-los também — é impossível não mencionar — por meio das diversas formas de violência familiar, tão cruéis e tão frequentes na nossa sociedade descristianizada. 
Na medida em que a família é mais numerosa, vai-se tornando mais difícil o estabelecimento de qualquer dessas tiranias domésticas. Os filhos percebem melhor quanto pesam aos pais, tendem a ser-lhes por isso gratos, e a ajudá-los com reverência — quando chegado o momento — na condução dos assuntos familiares.  
Por sua vez, o número considerável de filhos dá ao ambiente doméstico uma animação, uma jovialidade efervescente, uma originalidade incessantemente criativa no tocante aos modos de ser, de agir, de sentir e de analisar a realidade quotidiana de dentro e de fora de casa, que tornam o convívio familiar uma escola de sabedoria e de experiência, toda feita da tradição comunicada solicitamente pelos pais, e da prudente e gradual renovação acrescentada respeitosa e cautamente a esta tradição pelos filhos. A família constitui-se assim num pequeno mundo, ao mesmo tempo aberto e fechado à influência do mundo externo.  
A coesão desse pequeno mundo resulta de todos os fatores acima mencionados, e esteia-se principalmente na formação religiosa e moral dada pelos pais em consonância com o pároco, como também na convergência harmônica das várias hereditariedades físicas e morais que, através dos pais, tenham concorrido para modelar as personalidades dos filhos". 

Famílias, pequenos mundos que convivem entre si de modo análogo às nações e aos Estados 

"Esse pequeno mundo diferencia-se de outros pequenos mundos congêneres, isto é, das outras famílias, por notas características que lembram em modelo pequeno as diferenciações entre as regiões de um mesmo País, ou os diversos países de uma mesma área de civilização.  
A família assim constituída tem habitualmente como que um temperamento comum, apetências, tendências e aversões comuns, modos comuns de conviver, de repousar, de trabalhar, de resolver problemas, de enfrentar adversidades e de tirar proveito de circunstâncias favoráveis. Em todos estes campos, as famílias numerosas possuem máximas de pensamento e de procedimento corroboradas pelo exemplo do que fizeram os seus antepassados, não raras vezes mitificados pelas saudades e pelo recuo do tempo”. 
________________
(Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, Editora Civilização, 1993, Porto, págs. 108-109).

21 de janeiro de 2015

A extrema gravidade do perigo islâmico

Em Londres, manifestação de muçulmanos na qual propugnam, entre outros absurdos, o que consta em seus cartazes: “Massacre aqueles que insultam o Islã” (“Massacre those who insult Islam”); “Degole aqueles que insultam o Islã” (“Behead those who insult Islam”); “Aniquile aqueles que insultam o Islã” (“Annihilate those who insult Islam”).

Enquanto o Ocidente, indolente frente ao perigo, abre as portas para o mundo maometano, o terrorismo ataca-o e planeja dominá-lo, ao mesmo tempo em que os cristãos são massacrados no Oriente


Paulo Roberto Campos


O mundo inteiro encontra-se chocado com o atentado praticado pelo terrorismo islâmico em Paris no dia 7 de janeiro último, quando dois muçulmanos fortemente armados executaram 12 pessoas, a maioria delas colaboradores do semanário satírico francês “Charlie Hebdo” — um pasquim ateu, que calunia inclusive Igreja Católica, muitas vezes lançando contra ela as mais chulas e obscenas blasfêmias. Por isso mesmo, ao contrário do que incontáveis pessoas bradaram, cada católico poderia dizer: “Je ne suis pas Charlie”.

Esse atentado foi considerado o mais grave ocorrido nos últimos 50 anos na França. Ao se retirarem, os terroristas abateram covardemente um policial à queima-roupa (foto abaixo) — sem saberem, aliás, que o mesmo era de origem muçulmana... —, e ainda gritaram: “Allahu Akbar!” (Alá é Grande!). 
Vídeo de vigilância flagrou o exato momento em que um policial desarmado, já ferido e pedindo clemência, é alvejado covardemente por um dos terroristas islâmicos com um tiro na cabeça.

Nesse mesmo dia, ainda na capital francesa, outro terrorista islâmico assassinou uma policial e feriu outro militar. Esse mesmo homem invadiu no dia seguinte um supermercado judeu e matou quatro pessoas. Mas acabou sendo morto pela polícia, sorte reservada também aos dois terroristas precedentes.

Portas abertas para terroristas maometanos

É compreensível que esses crimes brutais choquem a opinião pública mundial — sobretudo a francesa e a do mundo ocidental ex-cristão. O que não se compreende é a longa atonia dessas opiniões públicas diante da grave ameaça islâmica. Atentados do gênero eram previsíveis, uma vez que muitas nações ocidentais, em particular as europeias, escancaram indiscriminadamente suas portas à imigração, facilitando assim a entrada de fanáticos seguidores de Maomé.


Meninas nigerianas raptadas por jihadistas 
(guerrilheiros muçulmanos) para serem 
vendidas com escravas sexuais 
Nos tempos atuais, chegam-nos todos os dias ao conhecimento notícias de cristãos que são perseguidos cruelmente, martirizados e degolados no mundo maometano; que têm suas filhas estupradas, vendidas como escravas sexuais, e suas moradias destruídas.
Martha Mark, a mãe da estudante sequestrada Monica Mark, chorou enquanto exibia foto da filha na casa da família em Chibok (Nigéria). Islâmicos do Boko Haram tinham sequestrado 300 estudantes, entre as quais a menina Monica Mark. 
Chegam-nos também com frequência notícias dramáticas de imagens sacrossantas profanadas, bíblias queimadas e igrejas católicas incendiadas por bárbaros islamitas radicais. Em certos países muçulmanos que seguem a Sharia (lei islâmica) não é permitido sequer ostentar qualquer símbolo católico, como, por exemplo, uma correntinha com a cruz ao pescoço, a medalha de Nossa Senhora ou de algum santo. 


Enquanto muçulmanos agem assim em seus países em relação
Mesquita em Paris
aos cristãos, por que nas nações ocidentais se permite que eles possam usar e abusar de todos os direitos e desfrutar de toda liberdade, inclusive a de construir mesquitas ou “centros culturais”, que frequentemente são lugares para formação de terroristas? Sim, porque neles se ensina o Alcorão, o qual prega o ódio implacável ao Cristianismo. Se não há reciprocidade da parte deles, por que então lhes abrir de par em par as portas? Será que não se percebe a gravidade do perigo islâmico? Não se percebe o quanto tal abertura, em nome do relativismo e de um ecumenismo irenista, representa de terrível ameaça? 

Imagens de Satélite revelam a dimensão dos ataques em Baga. A cidade antes (à esquerda, no dia 2 de janeiro) e depois da invasão (à direita, no dia 7 de janeiro) dos jihadistas do grupo islâmico Boko Haram. “As fotos mostram uma devastação de proporções catastróficas, uma cidade quase desapareceu do mapa num período de quatro dias”, disse Daniel Eyre, pesquisador da “Anistia Internacional”. (Foto: © DigitalGlobe)

Alerta ignorado e recrudescimento do perigo islâmico

Plinio Corrêa de Oliveira previu com muita antecedência a ameaça maometana, tendo enunciado diversas advertências nesse sentido. Como seria diferente a situação atual se as autoridades civis e religiosas da época em que elas foram publicadas tivessem levado em consideração os alertas desse eminente líder católico brasileiro! Entretanto, tragicamente, tais autoridades preferiram ignorá-las…

A título de exemplo, transcrevemos (ver no final deste post) alguns trechos de um desses alertas, publicado em 15 de junho de 1947 nas páginas do semanário “Legionário”, órgão oficioso da arquidiocese de São Paulo. Seu título: “Maomé renasce”.


Jiharistas do Boko Haram
Este post já estava concluído quando tomamos conhecimento de um massacre bem maior do que o perpetrado em Paris no dia 7 de janeiro. Na mesma semana, os terroristas do grupo islâmico Boko Haram assassinaram aproximadamente duas mil pessoas em Baga, cidade estratégica situada ao nordeste da Nigéria (África), a maioria delas crianças, mulheres e idosos que não conseguiram fugir. 

Conforme informou à BBC o chefe do governo local, Musa Alhaji Bukar Kukawa, parte da cidade foi incendiada nesse ataque, obrigando milhares de pessoas a evadirem, tendo muitas delas se afogado ao tentarem cruzar o lago Chade.

Cristãos martirizados no mundo muçulmano

Relata o jornal português “Observador” (edição on-line de 10-1-15): “Desde o fim do ano, mais de 10 mil pessoas abandonaram a região com medo da chegada dos terroristas”. “A carnificina humana levada a cabo pelos fundamentalistas do Boko Haram em Baga é enorme”, declarou à AFP Muhammad Abba Gava, porta-voz dos combatentes civis que tentam frear o avanço dos terroristas do Boko Haram (nome que, na língua local, significa “educação não islâmica é pecado”). Eles tentam implantar a qualquer custo um Califado na região, nos mesmos moldes dos jihadistas do "Estado Islâmico" que guerrilham no Iraque e na Síria. 


 "Estamos muito felizes com o que aconteceu no centro da França. Oh, franceses, vocês que seguem a religião da democracia, entre vocês e nós é inimizade é eterna", declarou Aboubakar Shekau, líder do grupo islâmico Boko Haram, também responsável pelo ataque em Baga.




Neste sentido, a agência vaticana FIDES alertou: “A crise no nordeste da Nigéria está se estendendo cada vez mais aos países vizinhos, com ameaças, como as de um vídeo atribuído ao líder do Boko Haram, Aboubakar Shekau [foto à esq.],  contra o Presidente dos Camarões, Paul Biya”. No vídeo ele ameaçou “aumentar a violência nos Camarões se o país não abolir a Constituição e adotar a lei do Islã” (cfr. ACI, 10-1-15). 

Segundo nota distribuída pela “Agência Ecclesia” (12-1-15), “cerca de mil igrejas cristãs na Nigéria foram destruídas nos últimos quatro anos”. De acordo com o Pe. Obasogie, “só entre os meses de agosto e outubro de 2014, foram saqueadas e incendiadas naquele território pelo menos 185 igrejas”. O mesmo sacerdote avalia que “190 mil pessoas tiveram que fugir de suas casas para escaparem à morte e muitas outras já perderam a vida”.

Em entrevista concedida em 12 de janeiro último ao programa Newsday da BBC, o arcebispo da cidade de Jos, Dom Ignatius Kaigama, deplorou que o massacre em Baga “é uma tragédia monumental. Deixou todos na Nigéria muito tristes. Mas parece que estamos desamparados”. Sua lamentação referia-se à falta de apoio internacional para conter essas atrocidades. 
Captura de Baga, na Nigéria, pelo Boko Haram ocasionou quase 2 mil mortes.

Prolongada indolência do mundo ocidental ex-cristão

Logo após os atentados islâmicos em Paris, realizaram-se grandes manifestações em toda a França, e também em outros países. No entanto, para citar apenas o recente massacre em Baga, cabe perguntar: onde ocorreram manifestações públicas de protesto contra a carnificina cometida pelo terror islâmico nessa cidade nigeriana? Em que lugar do mundo algum órgão da mídia com suas vistosas manchetes denunciou o espantoso homicídio coletivo? E quais autoridades mundiais lamentaram esse crime brutal? 

Em 17 de dezembro passado (dia do aniversário do Papa Francisco), centenas de dançarinos de tango bailaram nas proximidades da Basílica de São Pedro [foto abaixo]. A esse respeito, o historiador italiano Roberto de Mattei escreveu em artigo para o diário milanês “Il Foglio”, em 3-1-15: 


“Provavelmente os historiadores de amanhã se lembrarão que em 2014, na Praça de São Pedro, dançava-se tango enquanto os cristãos eram massacrados no Oriente e a Igreja estava à beira de um cisma. Essa atmosfera de leveza e de inconsciência não é nova na História. Em Cartago, recorda Salviano de Marselha, dançava-se e banqueteava-se na véspera da invasão dos Vândalos. E em São Petersburgo — de acordo com o testemunho do jornalista americano John Reed —, enquanto os bolcheviques se apoderavam do poder, os teatros e restaurantes continuavam lotados. O Senhor, como diz a Escritura, cega aqueles que Ele quer perder (Jo 2, 27-41)”. 


Maomé renasce 

Plinio Corrêa de Oliveira 
“Legionário”, 15-6-1947. 


 “Quando estudamos a triste história da queda do Império Romano do Ocidente, custa-nos compreender a curteza de vistas, a displicência e a tranquilidade dos romanos diante do perigo que se avolumava [...]. 
Desta ilusão, vivemos ainda hoje. E, como os romanos, não percebemos que fenômenos novos e extremamente graves se passam nas terras do Corão. 
Falar na possibilidade da ressurreição do mundo maometano pareceria algo de tão irrealizável e anacrônico quanto o retorno aos trajes, aos métodos de guerra e ao mapa político da Idade Média [...]. 
Todas estas nações [maometanas] — estas potências, podemos dizer — se sentem orgulhosas de seu passado, de suas tradições, de sua cultura, e desejam conservá-las com afinco. Ao mesmo tempo, mostram-se ufanas de suas riquezas naturais, de suas possibilidades políticas e militares e do progresso financeiro que estão alcançando. Dia a dia elas se enriquecem [...]. 
Nas suas arcas, o ouro [adquirido pelo alto valor do petróleo] se vai acumulando. Ouro significa possibilidade de comprar armamentos. E armamentos significam prestígio mundial [...]. 
Tudo isto transformou o mundo islâmico, e determinou em todos os povos maometanos, da Índia ao Marrocos, um estremecimento [...]. 

O nervo vital do islamismo revive em todos estes povos, fazendo renascer neles o gosto pela vitória.

A Liga Árabe, uma confederação vastíssima de povos muçulmanos, une todo o mundo maometano. É, às avessas, o que foi na Idade Média a Cristandade. A Liga Árabe age como um vasto bloco, perante as nações não árabes, e fomenta por todo o norte da África a insurreição [...]. 
Será preciso ter muito talento, muita perspicácia, informações excepcionalmente boas, para perceber o que significa este perigo?”